domingo, outubro 30, 2005

Mmmmmh!

Semana passada tivemos uma jornada de incentivo na empresa.
Isso significa, um dia todo de farra paga para nos conhecermos melhor (varias gostosas e boçais trabalham fora do castelo).
Começamos a tarde almoçando no museu "Made in Belgium" e depois partimos em uma competição acirrada para levantar pistas para a próxima etapa da farra.
Foi nesse museu que eu tive revelações maravilhosas sobre os Smurfs, sobre o saxsofone e outras informações incríveis:
- Voces sabiam que o pai da transfusão sanguínea é belga?
- Voces sabiam que a Bélgica já enviou dois astronautas pro espaço?
- Voces sabiam que a Madonna compra modelitos desenhados por Elvis Pompilio que por sinal é belga?
Bom, em suma, juntamos as pistas no museu e descobrimos o local onde iríamos para a farra noturna: Mmmmmmh!


No início eu achei que se tratava de um restaurante onde nos sentaríamos em uma mesa enorme e nos juntaríamos em pequenas panelas falando mal do grupo ao lado, me enganei completamente. O lugar é incrível, uma grande cozinha onde preparamos nosso próprio jantar. Parecia seriado do Peoples and Art.
Divididos em tres grupos, participamos de tres atividades: Degustação de vinho, pré-cocção e cocção. A cada meia-hora as equipes passavam de atvidade para atividade.
Por graças do destino eu comecei pela degustação de vinho e não saí mais disso. Após a terceira garrafa eu estava completamente bebado, sabe como é, eu acho um pecado ter que cuspir o vinho naquela joça que parece uma escarradeira.
Munido sempre de uma taça de vinho, tentei, juro que tentei, participar das outras duas atividades. Até comecei a cortar cebolas mas o chef responsável pelo nosso grupo percebeu que não era uma boa idéia me deixar com uma faca na mão.
Tentei, juro que tentei, participar da confecção do risoto mas nesse momento eu mal parava em pé e o chef responsável teve a devida percepção de me afastar de perto do fogão.
No final nos reunimos em uma grande mesa e apreciamos o jantar que preparamos.
Eu não apreciei porra nenhuma, munido de uma taça de vinho eu resolvi mostrar para meu chefe os avanços que eu estava fazendo no curso de neerlandes pago pela empresa e mandei-o gentilmente se foder e, não obstante, chamei a diretora de recursos humanos de puta arreganhada, mas sempre em neerlandes. esse é o charme da coisa.
Tive muita sorte de manter meu emprego na semana seguinte. Muita sorte mesmo.

Vidas que vem...


Essa belezura grávida acima é minha irmãzinha amada. Barriguinha fabricada e clicada pelo meu habilidoso cunhado, deve esvaziar em janeiro.
Estamos todos ansiosos pela chegada do João Julião e ele também está ansioso pra sair logo de lá. Passa o dia todo dando cambalhotas e gritando: "Me tira dessa bucetaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!"
Esse vai ser o cara!
Estou aqui pensando qual vai ser a melhor idade pra eu dar o primeiro porre de pinga com groselha, de enfiar o primeiro baseado nessa boquinha, de levar pra zona para ser descabaçado.
Ah, esse molecão, tão esperado, tao querido, tão amado ... se ele se aproveitar dessa situação de "denguinho da vovó" e ficar uma porra de um moleque mimado do caralho vai levar muita porrada do tio. Ah se vai.
Aí João, a hora que voce vazar fora ve se bate um fio aqui pro tiozão babão.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Vidas que vão ...

Segundo minha irmã, outubro é o mes de desencarno.
E não é que o Xirú foi embora pois tinha que parar um rodeio, no campo do bem querer?
Deixou chamegando a chaleira e o mate amargo que, prenunciando sua partida mais amargo ficou, enquanto as chinocas choravam nas tertulias do seu pago.
Boas lembranças e lágrimas voam alçadas num vento negro, campo a fora e quem foi embora tem que saber .... teremos saudades.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Fim dos tempos...

A verdade é que: duas pessoas mais do que especiais estão grávidas.
São duas pessoas que devido à carga socio-político-cultural-rock'roll angariada com o decorrer da vida, trarão à luz rebentos mais do que especiais.
Minha pergunta é: Marcelo Benvenutti ou Kátia Aguiar será o genitor(a) do futuro anti-cristo?
As bolsas de apostas de Londres estão estremecidas. E nós também... a espera será angustiante.

terça-feira, outubro 25, 2005

Mais coisas que voce TEM que saber sobre a Bélgica

Esse pequeno e jovem país ( sim, jovem. Tornou-se independente do Reino dos Países-Baixos em 1830) é uma pequena caixinha de surpresas...
Além de ser o berço de santos, astronautas, ganhadores de premios Nobel, homens guerreiros e valentes, a Bélgica também é a patria mater do Saxofone.
Nascido em 1814 na cidade de Dinant e filho de um conhecido fabricante de instrumentos de sopro da região, Adolphe Sax desenvolveu o saxofone e o apresentou ao público na ocasião da Exposição Industrial de Bruxelas em 1841. A história desse músico-inventor é interessante e eu sugiro uma pesquisa ao link acima caso se queira mais informações.
O importante é que voce saiba exatamente QUEM amaldiçoar quando aquela sua vizinha baranga estiver ouvindo Kenny G. no volume máximo a cada vez que se apaixona.

sábado, outubro 22, 2005

Algo que voce TEM que saber sobre a Bélgica


Que Jean-Claude Van Damme é belga todo mundo tá careca de saber.
Que Tintin é belga todo mundo tá cagando e andando.
Ontem eu tive uma revelação cultural que mudou minha vida: Os Smurfs são belgas.

Sim, eu também fiquei surpreso. O nome original é "Schtroumpfs", são personagens criados pelo ilustrador belga Peyo. Apareceram pela primeira vez em 1958, na tira Johan et Pirlouit, publicada na revista em quadrinhos belga Spirou.

No Brasil, são conhecidos principalmente graças a um desenho animado produzido pela Hanna-Barbera Productions e veículado pela Rede Globo de Televisão na década de 1980.

Aqui também tem cultura.

Update 1: O link da foto estava quebrado. Se não fosse pelo meu amado gaúcho macho, o Benvenutti, ninguém saberia de quais smurfs eu estava falando.

quinta-feira, outubro 20, 2005

En Boeleken Alstublieft !

Tenho que confessar que, por obra divina, vim parar num país perfeitamente adequado ao meu perfil, os motivos são simples: a Bélgica concentra a maior quantidade de tipos de cerveja e mulheres gostosas por metro quadrado.
Minha esposa, sabendo da inexorabilidade do meu caráter e da imutabilidade de minh'alma não me priva totalmente de encher a cara socialmente nem de admirar em silencio a beleza helenica inerente às belgas mas eu sei que tenho que moderar na apreciação dos dois ítens acima, por isso dedicarei as próximas linhas apenas à criação divina que a maioria dos homens não vive sem, que alimenta meus sonhos eróticos, que quando a encontro pelos bares ou boates sinto meu peito arfar de paixão enquanto minha pele arrepia de desejo e as batidas do meu coração aceleram de excitação: ela, a cerveja!
São mais de 2.000 marcas de cervejas de diferentes tipos de fermentação nesse abençoado país. Após seis meses aqui eu ainda não consegui provar nem 20% delas. E nem daria, minha degustação é muito minuciosa. Semanalmente eu analiso uma marca diferente com toda a calma do mudo. Eu não me permitiria fazer um jugamento precipitado desta ou daquela marca correndo o risco de cometer alguma injustiça na minha avaliação final.
Para nós brasileiros, a cerveja adquire significado simples e objetivo: quando somos estudantes durangos tomamos Kaiser ou Skincariol, quando saímos do trabalho tomamos Brahma, quando vamos à praia tomamos Skol (em latinha, claro!). As vezes podemos variar o paladar com uma Xingú (preta) ou com a imbatível Kaiser Bock mas não tomamos consciencia de quão limitado é o nosso universo.
A Belgica produz suas cervejas a centenas de anos e de uma maneira extremamente bem elaborada.
Na aula de hoje aprenderemos rapidamente sobre os tres principais tipos de cerveja em função do seu modo de fermentação:

-Baixa fermentação: A mais recente técnica de fermentação de todas, datada de 1840, produz a cerveja pilsner que representa 90% da produção mundial de cerveja. A pilsner é uma cerveja clara, dourada e leve. Consumida gelada, apresenta um sabor refinadamente amargo e é nossa velha conhecida. A Stella Artois e a Jupiler são as marcas mais consumidas da Bélgica.

-Alta fermentação: Aí é que o bicho começa a pegar! Esse é o processo de fermentação mais antigo e complexo e produz uma gama gigantesca de cervejas variadas. A combinação de quantidades e tempo de fermentação associadas com o tipo de filtragem (ou não) resultam em centenas de marcas de qualidade. A mais famosa é a cerveja "trapista" , produzidas por monges cisterciences bebuns. Apenas tres abadias ainda produzem originalmente essa cerveja. Outras poucas abadias prosseguem a fabricação de produtos de abadias extintas no passado. Ex: Chimay, Rochefort.

-Fermentação expontãnea: La créme de la créme! De produção exclusiva a região de Bruxelas, essas cervejas são um verdadeiro luxo radioso de sensações. O malte é preparado com variações de antigas leveduras ou com mistura de leveduras diferentes.
Desse processo nasce dois tipos principais de cervejas: aa Lambic e a Gueuze. Algumas possuem a última fermentação dentro da garrafa e são conhecidas como "champagne de cerveja", outras tem um maravilhoso paladar frutado adquirido com o acréscimo de cereja, pessego ou framboesa na cocção do malte. Minhas prediletas são: Mort Subite e a BelleVue.

Na próxima aula trataremos sobre as cervejas trapistas, discorreremos sobre os aspectos dos irmãos cisterciences e debateremos sobre o que levou quatro irmãos cisters a encherem a cara com hectalitros de sua própria cerveja, abandonarem a ordem e montarem uma banda de rock conhecida pelo nome de Twisted Cisters.

Vou nessa, esse assunto me deu vontade de tomar uma Kriek ao som de "We're Not Gonna Take It".

segunda-feira, outubro 17, 2005

Um lugar chamado Abbey Road

Abbey Road como os Beatles fizeram ...

... e como eles deveriam ter feito se não fossem um bando de cagalhões mariquinhas.

Let Me Take You Down To The Abbey Road


Foi nessa movimentada rua em Londres que os Beatles gravaram, nos estúdios da EMI Abbey Road, a maior parte de seu material produzido entre 1962-1970.
Situada no distrito de St. John's Wood, o acesso é fácil por metro. Saindo da St John'sWood Station é só seguir a Grove End Road até o final.
Alguns idiotas (como eu, por exemplo) não irão reconhece-la logo de cara. Recomendo levar uma impressão da foto da capa do CD pois a famosa faixa de pedestres não é tão evidente assim.
Ao lado esquerdo da foto, uns 50 metros a frente, fica o estúdio. Não adianta chorar, espernear ou tentar se prostituir para o porteiro: é fechado para visitações públicas. A última vez que suas portas se abriram para a plebe rude foi nos anos 80 e mesmo assim em curtíssima temporada.

O que voce tem que saber?


  • A faixa de pedestres foi repintada e está diferente da época da foto da capa do disco. Também foi modificado as faixas laterais. Agora elas são em zig-zag o que significa: "Não pare aqui nem fodendo."
  • O angulo original da foto foi obtido a partir de um monumento a poucos metros da faixa, bem no cruzamento da Grove End e Abbey road mas exige um certo malabarismo para clicá-la.
  • A famosa foto foi improvisada. Apenas seis fotos foram tiradas nesse dia, em algumas o Paul tá de sandália e não descalço como no disco.
  • A placa da rua que aparece na contra-capa do CD já foi roubada a muuuuuuito tempo atrás e talvez um dia apareça em algum leilão da Sotheby's
  • Dificilmente voce conseguirá a paz necessária para fazer a travessia sozinho e sem turistas japoneses aparecendo por todo o lado. Eu recomendo usar de violencia. Após espancar dois ou tres japonses os outros sairão do teu angulo fotográfico e esperarão pacientemente sua vez.
  • O transito é infernal , como a faixa neste local é preferencial para pedestre e os ingleses possuem humor instável, procure visitar o local fora de horário de pico e esperar por momentos tranquilos no tráfego.

Um angulo não explorado da travessia

A placa da rua devidamente vandalizada por brasileiros rebeldes

domingo, outubro 16, 2005

Cultura Dispensável



Se um dia voce estiver coçando o saco ou o grelo em casa sem nada para fazer, vá passar uma tarde em Luxemburgo.
Eu recomendo.
Pais bosta do tamanho de um respingo de titica de galinha, Luxemburgo já foi uma rica potencia militar que controlava o acesso das tropas romanas que se deslocavam ao norte da europa.
Vários kilometros de casamatas foram escavados em sua fortaleza, uma verdadeira cidade de 15.000 habitantes vivia em função da guerra habitando seu subterrãneo.
No século XVIII , Luxemburgo assinou o tratado da neutralidade militar, acabou com suas forças armadas e dinamitou suas casamatas. Aderiu ao mesmo estatuto que Suiça e Liechtenstein, e virou um país rico graças às vantagens fiscais que passou a ter direito a explorar. Bancos importantes possuem sua sede aqui para lavar dinheiro do narcotráfico, contrabando de armas e mensalão.
Agora, pensando bem, o que leva uma pequena nação rica a suprimir toda forma de proteção armada em seu território simplesmente pelo fato de se tornar militarmente neutra? O que garante que um Sadam Hussein Jr. não possa invadí-la e subjugá-la escravizando seus habitantes e estuprando seus animais de estimação?
A resposta é simples, todo o dinheiro do mundo está guardado (ou escondido) nessas pequenas nações, qualquer tipo de gracinha seria repreendida com milhares de misseis nucleares vindo de diversas partes do mundo. Só resta aos nanicos provocarem:"E aí, vai encarar???"

Dez minutos após colocar o blog no ar apareceram spams do tipo "penis enlargement" nos "coments". Até aqui essa virose ataca.

Promessa é dívida......pago quando puder.



Não votei.
Nunca votaria ( mesmo em um pleito entre um Slobodan Milosevic exilado no Brasil e o figurão da foto ao lado eu optaria pelo Slobodan)
Saí do Brasil por causa dele, entre outros motivos.
Mas me divirto, me divirto muito com as pandegas e galhorfas petistas. Um dia não faremos mais piadas sobre portugueses. (Em um avião tinha um americano, um alemão e um petista ....)
Prometi para todos que o dia que o distinto senhor da foto ao lado morresse e seu partido voltasse a ser uma verruguinha periférica eu voltaria sem dúvida para minha pátria amada.
Agora que minhas condições estão começando a se concretizar eu gostaria de voltar atrás na promessa: volto po Brasil no dia em que todas as condições acima se concretizarem e o palhaço Bozo voltar a ter seu espaço no horário infantil mas desta vez na Rede Globo enquanto a Maria da Graça Meneghel retoma sua antiga atividade de atriz porno.
Daí sim vale a pena voltar!

Waterloo - Bélgica

Foi aqui que o Napa (Napoleão Bonaparte) se fodeu.
Fez uma sucessão de cagadas: deixou a batalha logo nas primeiras horas e foi bater uma punheta, nomeou seu melhor capitão como general das forças francesas e o mesmo se revelou o pior general do mundo fazendo uma série de burrices estratégicas.
Final da festa: mais de 10.000 mortos sendo a maioria soldados de seu fiel exército.
Hoje em dia o campo de batalha de Waterloo permanece intacto com todas as construções históricas ao seu redor muito bem preservadas.
Para simbolizar o final da guerra e a vitória dos aliados europeus (Inglaterra, Bélgica, Holanda e Prússia), foi construído um monumento conhecido por " La Butte du Lion" exatamente sobre o local onde o Principe d'Orange levou uns pipocos e ficou noiado estirado no chão.
Andando pelo campo é possível ver placas comemorativas agradecendo este ou aquele oficial que tombou por uma europa livre virando presunto naquele fatídico 18 de julho de 1815.

Veja o mapa tático aqui

Hoje é assim:

Hoje estou casado, moro na Bélgica, sou Project Manager da AOS em Bruxelas e vou alternar aqui as histórias passadas com o dia-a-dia, assim não fico só na punhetagem nostalgica de um passado quase feliz.

Agora sim começou a pintar um dinheirinho...


Tudo que eu sempre sonhei na vida era ser lavador de pratos. Trabalhar num restaurante japones era um "it" a mais.
Comecei tres dias da semana mas logo os donos notaram meu talento nato para a função e me colocaram fixo cinco dias por semana. Além disso aumentaram meu salário em 50 pences, tudo que eu precisava.
Eu era o primeiro a chegar na função, faxinava o pedaço, ralava a bosta das privadas, recebia os fornecedores e ainda por cima fazia um estágio de auxiliar de cozinha, cortava e limpava camarões, fatiava lulas e ralava repolho. Nada poderia er mais perfeito.
Meio dia o restaurante lotava e eu retomava o meu posto de lavador implacável de pratos.
Final da tarde eu comia meu yakysoba de porco e partia ao lar com sensação de missão cumprida.
Acho que nunca fui tão feliz na vida. Todos os dias eu deixava o serviço, passava no Tesco ( que eu apelidava carinhosamente de Tosco) comprava uma pizza de 99 pences e uma sidra de 2 litros vendida a 1,45 pounds (juro pra voces que se o corpo humano não fosse uma máquina tão complexa eu poderia passar o resto da minha vida me alimentando daquela pizza de 99 pences), tomava meu buzão linha 8 e adentrava ao meu lar, doce lar.
Manhã seguinte eu tomava dois litros de água para equilibrar o organismo, tomava meu musli com leite e saia lépido e faceiro para mais uma maravilhosa jornada de trabalho.
Até meus últimos dias em Londres eu trabalhei lá. Chamava-se "Abeno". Antes de deixar Londres, obviamente, participei de umas dez festas de despedidas organizadas pelos meus colegas de trabalho japas e até hoje mantemos contato.

A Maravilhosa vida do Homem-Placa


Em Londres é proibido pendurar faixas ou colar cartazes na rua. Quando eu digo "proibido" é proibido MESMO, por isso a melhor maneira de fazer publicidade da sua pocilga é pagar um imigrante ilegal ou um polones submisso para segurar uma placa informativa.
Primeiro trabalhei segurando uma placa seis horas por dia para uma pequena loja de guitarras. O pagamento dava para comprar feijões enlatados do Tesco (supermercado dos mal-fodidos em Londres) e alguns ovos. Dava pra pagar o aluguel da minha cama no meu mocó.
Duas semanas depois, um coreano boa-gente me ofereceu de ser homem-placa de seu novo e promissor cyber-café e trabalhar doze horas por dia.
Movido pela ambição e pela tentação do salário dobrado, aceitei na hora e até hoje minha coluna cervical e meus pés protestam contra essa decisão.
O problema é que quando voce está na rua e o frio sobe pelo seus pés, primeiramente necrosando seus dedo, a hora não passa como deveria. Além disso, não adianta colocar milhões de casacos, o frio te consumirá e exigirá que todos os seus orgãos vitais trabalhem dobrado para que voce não padeça solitário em na esquina da Denmark Street com a Charing Cross. Se o seu corpo não resistir e voce vier a falecer pode ter certeza que isso só será notado umas duas semanas depois quando um vendedor de alguma loja notar que faz tempo que voce está caido no chão congelado na mesma posição.
A mente também sofre. Eu lia livros, conversava com mendigos e com limpadores de rua, fornecia informações turísticas com precisão e contabilizava as transeuntes comíveis. Em um dia eu contei mais de trezentas.
Em compensação eu tinha tres pausas de meia hora para me reestabelecer mas essa meia hora literalmente voava. Os coreanos me deixavam usar a internet de graça, me davam café, bolo e palavras amigas para que eu sobrevivesse a essa provação.
Isso durou dois meses, graças a deus. Fui contratado como lavdor de pratos num restaurante japones e a placa ficou para um outro ser fodido estrupiado.
Mesmo sem estar mais trabalhando para os coreanos eu ia diariamente no cyber-café conferir meus mails, sempre de graça. Ainda por cima continuava ganhando bolo, café, refrigerante e até bilhetes para assistir a alguns musicais famosos.
Mas agora a vida era outra e promissora. Lavar pratos era meu grande objetivo na vida...

Já fez um ano...

Foi no dia 15 de setembro de 2004 que eu partilhei minha última refeição com meus familiares e saí pelo mundo.
Eu já havia saído pelo mundo outras vezes mas dessa vez era diferente: eu simplesmente não sabia o que eu iria fazer mundo afora.
Mas o desejo de mudar era grande. Movido por uma série de fatores (sócio insuportável, Lulalá, crise economica eterna) fechei minha empresa, que por incrível que pareça ia muito bem, vendi minhas coisas ( saudades de voces, meu Rikembacker e meu carrinho), comprei minha passagem e me mandei.
O destino foi Londres pois meu irmão já morava lá. Extremamente otimista, o filhodaputa do Gui me passou confiança e me fez acreditar em uma sobrevivencia promissora. Importante frizar que se não fosse esse meu amado filhodaputa eu não teria tido pique para encarar toda essas mudanças.
Cheguei em Amsterdãm e fui direto pra Paris, de Paris direto pra Grenoble encontrar meus antigos amigos de faculdade.
Foi uma semana de puro extase, milhões de compromissos sociais e mais de mil €uros torrados na farra.
De uma certa maneira essa semana de transição me ajudou a suportar a falta da minha mãe, da minha irmã e principalmente da minha amada esposa que na época era minha namorada.
Passada essa semana o caldo entornou e eu caí na real: estava fodido.
Minha chegada em Londres deu-se numa madrugada do dia 24 de outubro. Ninguém para me esperar na rodoviária, nenhum comércio aberto para comprar um cartão telefonico, só me restava esperar.
E esperei.......... esperei até as 6 da matina quando abriu o primeiro indiano da esquina e eu pude finalmente comprar meu cartão telefonico e chamar por socorro.
Meu irmão estava viajando e minha "cunhada" (na época) estava muuuuito cansada, como sempre, para ir me buscar. Me passou todas as informações de metro e onibus para que eu pudesse chegar sem erros em Finsbury Park. Optei por um taxi.
Condesso que Londres não me passou uma boa imagem de início e nem nos próximos tres meses.
Sem ver vestígios da luz do sol e com o dinheiro acabando eu cheguei a sentar na Shoho Square e chorar copiosamente.
Minha querida ex-cunhada (ex, graças a deus) me aturou por dez dias e delicadamente me tocou de casa. Fui morar num pulgueiro cheio de ratos na Caledonian Road onde eu dividia um apartamento com mais sete brasileiros fudidos e mal pagos. Eu era o mais fudido entre todos eles.
Levou mais de um mes para arrumar emprego e mesmo assm eu tive que começar por baixo: homem-placa. Abaixo de mim, na cadeia social, só existiam os mendigos.
E assim começa a saga...

Life Goes On



The Beatles

What goes on in your heart?
What goes on in your mind?
You are tearing me apart
When you treat me so unkind
What goes on in your mind ...