terça-feira, setembro 19, 2006

Amigos, amigos. Sacanagens à parte - Episódio 01

Outro dia eu estava contando uns causos descrevendo a maneira como eu costumava sacanear meus desafetos ou resolver situações que me incomodavam e minha amiga Svea veio me perguntar se éramos amigos para sempre. Doce ilusão, Svea, doce ilusão. Como eu já havia dito antes, sou adepto da máxima: perco o amigo mas não perco a piada. Lógico que isso é uma maneira de dizer. Eu não quero perder amigos para fazer uma piada mas às vezes é inevitável como na ocasião dos ataques do PCC, a população se borrando nas calças e eu resolvi ligar para uma empresa de amigos em São Paulo (encanadíssimos com a segurança pessoal) e pedi para falar com um deles me identificando como "Genésio do PCC". Eu ia pedir pra ele comprar créditos para meu celular mas nem deu tempo: o pânico tomou conta de toda a empresa, idosos infartaram, grávidas pariram e valentões se cagaram antes mesmo de eu poder desfazer a "brincadeirinha". Só agora, alguns mêses depois estamos estabelcendo tímidas aproximações. O povo ficou putíssimo. Pudera, se eu parasse pra pensar um pouco antes de executar uma cagada dessas eu não a faria. Mas esse é o meu grande mal: testar o limite das minhas gracinhas.
Acho que adquiri esse espírito de porco do meu avô. Esse véio adorava sacanear com o povo. Conseguiu certa vez vender para um colega de trabalho um título vitalício de um puteiro famoso nos anos 60 em Campinas. O cara pagou em cheque (que nunca foi descontado) e teve direito até a diploma de sócio com assinatura da "cafetina" que nada mais era do que a assinatura de alguma funcionária do banco em que ele trabalhava . A história foi tão longe que ninguém teve coragem de dizer pro Mané que ele caiu como um trouxa numa das diversas armadilhas que meu avô montou pra ele. Levou muito tempo pro cara sacar que era gozação, que nunca existiu esse título vitalício do "Galo de Ouro".

Amigos, amigos. Sacanagens à parte - Episódio 02

Foi então quando eu lembrei de uma vez que resolvi sacanear com o Guimarães (Guima para os amigos). Um pusta dum amigo maravilhoso mas que adorava nos meter em fria.
Pra tirar onda da cara de outrém, Guima não media esforços e, por inúmeras vezes, nos colocava em saias justíssimas na frente de amigos, namoradas e até de desconhecidos. Eu mesmo já quis entrar no esgoto e desaparecer várias vezes com as sacanagens que o Guima armou pra cima de mim.
No desfecho da história ele ficava meia-hora gargalhando de uma forma tão gostosa e contagiante que o desejo de matá-lo virava gargalhadas também.
Até que um dia fui presenteado com uma oportunidade de pagar com juros e dividendos cada vez que ele me deixou com cara de tacho.
Naqueles meses, início de governo Mulla, tudo muito incerto, investimentos comedidos e quase nenhum dinheiro na praça vivíamos nos ajudando mutuamente emprestando dinheiro a juros baixíssimos, ou inexistentes, entre os amigos. Era muito normal meu telefone tocar, eu atender e algum amigo meu me pedir urgente alguma quantia de dinheiro para ser paga alguns dias depois. Eu mesmo recorri a essa fonte alternativa de dinheiro centenas de vezes. Ninguém caloteava ninguém. As restituições de dívida eram quase sempre feitas no prazo e, além do limite do cheque especial, sempre podíamos contar com essa ajuda extra em horas de pane financeiro.

Pois um dia eu precisei de dinheiro urgente e comecei a percorrer minha agenda atrás de alguém que pudesse me emprestar "quinhentos contos até sexta". O Guima podia me emprestar a grana mas estava numa reunião sei lá onde, não dava pra fazer a transferência via internet, não dava pra passar no meu escritório e deixar um cheque, não dava pra fazer nada. Então ele me pediu que eu fosse até a agência bancária dele, procurasse o "Almir" (que era o gerente de contas) e que eu pedisse pro Almir sacar quinhentos "contos" da conta dele e me dar. Depois ele iria lá pra assinar um cheque ou passar o cartão no caixa. Se houvesse alguma dúvida era pra dizer pro Almir ligar pra ele que ele resolveria por telefone.
Pode parecer sulreal o que ele me mandou fazer mas o fato é que o Guima foi diretor desse banco e todos no banco o conhecia.
Eu procurei o Almir e contei essa história estranha toda. O cara me olhava desconfiado, meio que incrédulo. O diálogo que se produziu foi assim:

- Como é que é? O Guimarães? O Guima me mandou te dar quinhentos reais assim, na boa? Sem cheque? Sem assinar nada?

- É Almir, foi ele que pediu pra eu te procurar para pegar esse dinheiro. Se voce tiver alguma dúvida é pra ligar pra ele.

- Não, isso é muito absurdo! Eu não vou ligar pra ele não. Se ele vai te dar algum dinheiro que ele te dê um cheque e voce venha descontá-lo no caixa.


Nesse momento eu vi uma luz e percebi que era o momento perfeito para sacanear com o Guima na mesma moeda em que ele sempre me sacaneava. Me ajeitei na cadeira e comecei a falar com entonação de bicha enjoada com o Almir gerente:

- Olha Almir, me escute bem, eu sou garoto de programa e cobrei quinhentos reais do Guima pra comer o cú dele ontem a noite. Se voce não me der esse dinheiro ou não ligar pra ele AGORA eu faço um escândalo nessa agência.

Os olhos do Almir se arregelaram de espanto e, sem proferir uma palavra, ficou me olhando boquiaberto enquanto discava pro Guima.
O Guima atende o telefone e um Almir incrédulo começa a conversação:

- Guima, aqui é o Almir. Tem um rapaz aqui dizendo que...
(o Guima corta o papo)
- Almir caralho, dá o dinheiro pro moleque e não questiona. Eu não posso falar agora mas passarei depois do almoço pra assinar o cheque. Dá o dinheiro pro moleque! Dá o dinheiro pro moleque!


O Almir ainda boquiaberto pede pra um caixa trazer o dinheiro e me entrega (sempre boquiaberto). Peguei o dinheiro, agradeci e saí rebolando freneticamente do banco, segurando o riso de uma maneira que eu tive soluços por uma hora depois do episódio.
Depois do almoço o Guima entra na tal agência e todos os funcionários páram o que estão fazendo e olham-no com um misto de reprovação e nojo. Ele não entende direito o que se passa e vai diretamente falar com o Almir:

- Almir, obrigado pela confiança e por liberar o dinheiro do moleque pra mim.
- Guima, nós somos amigos há muito tempo, voce foi me chefe, meu mentor nesse banco e eu não tenho nada a ver com sua vida pessoal e nem com suas preferências sexuais. Mas PORRA, 500 reais para um baixinho daqueles comer teu cú é jogar dinheiro fora. Toma vergonha nessa cara !!!!!!


Meia hora depois o Guima estava derrubando a porta do meu escritório à pontapés. Me pegou pela orelha e me fez acompanhá-lo até o banco para desmentir a estória que eu contei.
Eu gargalhava tanto que não conseguia proferir uma só frase coesa. Passei mal, fiz xixi nas calças mas nunca me arrependi do dia em que eu fiz o Guimarães comer o frio prato da vingança.
Sacanagens e amizade à parte Svea, não me leve a mal não se um dia voce ficar presa no estacionamento do Colruyt* ( *piada interna).

sexta-feira, setembro 15, 2006

Band of Brothers e outras amenidades

Semana passada fizemos turismo de guerra aproveitando o bom tempo para pedalar na Bastogne e pelos campos da batalha das Ardennes.
Incorporando totalmente a atmosfera nostálgica que nos foi proporcionada, chegamos em casa exaustos mas resolvemos assistir os 10 episódios de "Band of Brother" seguidos por "Canhões de Navarone", " O Dia Mais Longo" e " Os 12 Condenados".
Tirando o fato de que todos os esses filmes se passam numa Europa flagelada onde os americanos irão restaurar a paz e trazer a felicidade global, encontrei uma série de semelhanças entre eles que são no mínimo interessante :


1) Para se passar disfarçadamente por um oficial alemão, não é necessário falar o idioma fluentemente. Basta apenas carregar no sotaque que os soldados alemães acreditarão em você.

2) Normalmente os protagonistas sobrevivem a qualquer batalha, exceto aqueles que caírem na besteira de mostrar para seu colega de trincheira uma foto de sua amada que lhe espera no final da guerra.

3) Na hora do "mano-a-mano", um soldado americano armado com uma colher pode derrotar dezenas de soldados alemães, armados com metralhadoras, quando encurralado.

4) O melhor lugar para se esconder durante uma troca de tiros com o exército inimigo é num rio ou numa lagoa. As balas nunca conseguem perfurar a tensão superficial da água.

5) O inglês é o idioma preferido da comunidade global. Até mesmo um grupo de prisioneiros franceses prefere falar em inglês entre si quando estão sozinhos.

6) Sempre que uma mensagem é enviada por código morse ela encontrará um destinatário que a decifre, seja um oficial no campo de batalha ou uma familia de camponeses famintos.

7) Qualquer loira boazuda de 22 anos pode ser autoridade mundial em criptografia.

8) Todo batalhão possui um líder de coração justo e benevolente, um intelectual, um comedor, um religioso, um psicopata e um negro (que sempre morrerá metralhado pelas costas).

9) Os alemães são péssimos no manejo de armamentos. Bazucas, morteiros e canhões fazem sempre um alvoroço, mas nunca acertam o alvo.

10) Praticamente não há habitantes na Europa durante a Segunda Guerra. Todas as cidades estão abandonadas. A população européia está basicamente concentrada nos pequenos vilarejos onde ocorrerão grandes festas e carreatas para os heróis americanos.

terça-feira, setembro 12, 2006

Piada pronta:

Eu ia passar o link mas optei pela reprodução na íntegra do artigo da redação do Terra:

"Internado, Maguila apresenta melhoras:
Internado desde a noite do último domingo na capital paulista, o ex-pugilista Adílson Maguila Rodrigues apresentou melhoras em seu quadro clínico nesta terça-feira.
De acordo com boletim divulgado pelo Hospital Nossa Senhora da Penha, localizado na zona leste de São Paulo, Maguila não está mais com febre e tem um quadro estável.
Com uma inflamação na região do ânus, ele permanece internado sem previsão de alta. Esta não é a primeira vez que o antigo peso pesado está no local.
Em janeiro deste ano, ele foi levado ao Hospital Nossa Senhora da Penha após decepar o dedo mínimo da mão direita com um cortador de grama. Na ocasião, um cachorro comeu o dedo e impossibilitou o reimplante."


Isso me fez lembrar daquela época em que o Maguila era a esperança brasileira para derrotar o Mike Tyson. Sim, o mais alto lugar no olimpo do pulgilismo na década de 80 não era ser campeão mundial mas sim derrotar o Tyson.
Maguila se imortalizou pelas suas tiradas simples e engraçadas. Após as lutas tinha o hábito de utilizar o microfone dos repórteres para "mandar um abraço". A lista dos beneficiados era infinita. Um retrato de sinceridade na imagem e semelhança do povo fodido que ele representava:

"- Eu queria mandar um abraço pra galera de São Migué, pra minha costureira que me fez esse robe, pro meu açogueiro que me garante toda semana vinte quilos de carne, pro meu mecânico que colocou ordem no motor do meu pois é ..." e por aí afora.

Obviamente a farsa não durou muito. Maguila não era um farsante, ele mesmo acreditou que poderia ser campeão mundial de boxe e fazer o Tyson beijar a lona. Tudo isso nada mais era do que um excesso de promoção enganosa do Luciano do Vale. Esse pilantra criou o mito, ajudou a consolidá-lo (com um monte de lutas fajutas) e derrubou-o de forma humilhante entregando-o para quase morrer nas mãos de Evander Hollyfield.
Após levar "A" porrada do então segundo colocado no ranking mundial, Maguila caiu na lona convulsionando e junto com ele caíram milhares de brasileiros que o tinha como um herói.

Comentário do Maguila após a luta:
"Eu tô achando que o Seo Luciano fez sacanagem comigo. Ganhei um monte de lutas fácil e duma hora pra outra me aparece esse negão que é um caminhão de oito eixos e me deixa estrebuchando queném frango no chão ..."

Mesmo assim Maguila continuou sendo o herói de uma nação carcomida, fodida e mal-paga. Abandonou o boxe algum tempo depois mas foi comentarista econômico do "Aqui, Agora!" e assim vive até hoje: vendendo nada mais do que sua imagem.
Esse é o nosso bom e velho Maguila. Com o cú inflamado ou faltando um dedo, sempre será o nosso bom e velho Maguila.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Já que tem que ser assim ...

Eu ia escrever algo sobre o fascismo mas a Wikipédia tirou todas as palavras da minha boca (link aqui)
Eu realmente estou tentando entender o que tem em comum oposição ao governo mollusco e o fascismo.
Se voce não vota mollusco voce é fascista. Se voce critica voce é fascista. Se voce questiona voce é fascista. Acho que faltou explicar para a escumalha apedeuta que existem pessoas que pensam diferente deles e que não apóiam e nem aprovam as ideologias falidas de quem quer transformar o Brasil em uma nova, feliz e utópica Albânia. Ou você é petralha ou fascista. Não se tem mais escolha.
Assim sendo, que possamos cantar em uníssono:

Salve, o Popolo d'Eroi
salve, o Patria immortale!
Son rinati i figli tuoi
con la fè nell'ideale.

Il valor dei tuoi guerrieri
la virtù dei pionieri,
la vision de omni fieri
oggi brilla in tutti i cuor.

Giovinezza, giovinezza
primavera di bellezza,
della vita nell'asprezza
il tuo canto squilla e va!

Dell'Italia nei confini
son rifatti gli Italiani
li ha rifatti Mussolini
per la guerra di domani.

Per la gioia del lavoro
per la pace e per l'alloro,

per la gogna di coloro
che la Patria rinnegar.

Giovinezza, giovinezza
primavera di bellezza,
della vita nell'asprezza
il tuo canto squilla e va!

I poeti e gli artigiani,
i signori e I contadini,
con orgoglio d'italiani
giurar fede a Mussolini.
Non v'è povero quartiere
che non mandi le sue schiere,
che non spieghi le bandiere
del Fascismo redentor.

Giovinezza, giovinezza
primavera di bellezza,
della vita nell'asprezza
il tuo canto squilla e va !