terça-feira, setembro 19, 2006

Amigos, amigos. Sacanagens à parte - Episódio 02

Foi então quando eu lembrei de uma vez que resolvi sacanear com o Guimarães (Guima para os amigos). Um pusta dum amigo maravilhoso mas que adorava nos meter em fria.
Pra tirar onda da cara de outrém, Guima não media esforços e, por inúmeras vezes, nos colocava em saias justíssimas na frente de amigos, namoradas e até de desconhecidos. Eu mesmo já quis entrar no esgoto e desaparecer várias vezes com as sacanagens que o Guima armou pra cima de mim.
No desfecho da história ele ficava meia-hora gargalhando de uma forma tão gostosa e contagiante que o desejo de matá-lo virava gargalhadas também.
Até que um dia fui presenteado com uma oportunidade de pagar com juros e dividendos cada vez que ele me deixou com cara de tacho.
Naqueles meses, início de governo Mulla, tudo muito incerto, investimentos comedidos e quase nenhum dinheiro na praça vivíamos nos ajudando mutuamente emprestando dinheiro a juros baixíssimos, ou inexistentes, entre os amigos. Era muito normal meu telefone tocar, eu atender e algum amigo meu me pedir urgente alguma quantia de dinheiro para ser paga alguns dias depois. Eu mesmo recorri a essa fonte alternativa de dinheiro centenas de vezes. Ninguém caloteava ninguém. As restituições de dívida eram quase sempre feitas no prazo e, além do limite do cheque especial, sempre podíamos contar com essa ajuda extra em horas de pane financeiro.

Pois um dia eu precisei de dinheiro urgente e comecei a percorrer minha agenda atrás de alguém que pudesse me emprestar "quinhentos contos até sexta". O Guima podia me emprestar a grana mas estava numa reunião sei lá onde, não dava pra fazer a transferência via internet, não dava pra passar no meu escritório e deixar um cheque, não dava pra fazer nada. Então ele me pediu que eu fosse até a agência bancária dele, procurasse o "Almir" (que era o gerente de contas) e que eu pedisse pro Almir sacar quinhentos "contos" da conta dele e me dar. Depois ele iria lá pra assinar um cheque ou passar o cartão no caixa. Se houvesse alguma dúvida era pra dizer pro Almir ligar pra ele que ele resolveria por telefone.
Pode parecer sulreal o que ele me mandou fazer mas o fato é que o Guima foi diretor desse banco e todos no banco o conhecia.
Eu procurei o Almir e contei essa história estranha toda. O cara me olhava desconfiado, meio que incrédulo. O diálogo que se produziu foi assim:

- Como é que é? O Guimarães? O Guima me mandou te dar quinhentos reais assim, na boa? Sem cheque? Sem assinar nada?

- É Almir, foi ele que pediu pra eu te procurar para pegar esse dinheiro. Se voce tiver alguma dúvida é pra ligar pra ele.

- Não, isso é muito absurdo! Eu não vou ligar pra ele não. Se ele vai te dar algum dinheiro que ele te dê um cheque e voce venha descontá-lo no caixa.


Nesse momento eu vi uma luz e percebi que era o momento perfeito para sacanear com o Guima na mesma moeda em que ele sempre me sacaneava. Me ajeitei na cadeira e comecei a falar com entonação de bicha enjoada com o Almir gerente:

- Olha Almir, me escute bem, eu sou garoto de programa e cobrei quinhentos reais do Guima pra comer o cú dele ontem a noite. Se voce não me der esse dinheiro ou não ligar pra ele AGORA eu faço um escândalo nessa agência.

Os olhos do Almir se arregelaram de espanto e, sem proferir uma palavra, ficou me olhando boquiaberto enquanto discava pro Guima.
O Guima atende o telefone e um Almir incrédulo começa a conversação:

- Guima, aqui é o Almir. Tem um rapaz aqui dizendo que...
(o Guima corta o papo)
- Almir caralho, dá o dinheiro pro moleque e não questiona. Eu não posso falar agora mas passarei depois do almoço pra assinar o cheque. Dá o dinheiro pro moleque! Dá o dinheiro pro moleque!


O Almir ainda boquiaberto pede pra um caixa trazer o dinheiro e me entrega (sempre boquiaberto). Peguei o dinheiro, agradeci e saí rebolando freneticamente do banco, segurando o riso de uma maneira que eu tive soluços por uma hora depois do episódio.
Depois do almoço o Guima entra na tal agência e todos os funcionários páram o que estão fazendo e olham-no com um misto de reprovação e nojo. Ele não entende direito o que se passa e vai diretamente falar com o Almir:

- Almir, obrigado pela confiança e por liberar o dinheiro do moleque pra mim.
- Guima, nós somos amigos há muito tempo, voce foi me chefe, meu mentor nesse banco e eu não tenho nada a ver com sua vida pessoal e nem com suas preferências sexuais. Mas PORRA, 500 reais para um baixinho daqueles comer teu cú é jogar dinheiro fora. Toma vergonha nessa cara !!!!!!


Meia hora depois o Guima estava derrubando a porta do meu escritório à pontapés. Me pegou pela orelha e me fez acompanhá-lo até o banco para desmentir a estória que eu contei.
Eu gargalhava tanto que não conseguia proferir uma só frase coesa. Passei mal, fiz xixi nas calças mas nunca me arrependi do dia em que eu fiz o Guimarães comer o frio prato da vingança.
Sacanagens e amizade à parte Svea, não me leve a mal não se um dia voce ficar presa no estacionamento do Colruyt* ( *piada interna).

4 Comments:

At 2:12 AM, Blogger SrtaJu said...

Ouvir você contando essa estória com entonação de bicha enjoada é bem mais divertido.

¬¬ Realmente não tenho que me preocupar tendo vc como amigo, melhor tio-amigo!!!

Beijos da XU, sobrinha.

 
At 7:41 PM, Anonymous Anônimo said...

Uma vez, estávamos eu e o Joe em Brasília, num hotel 5 estrelas e eu tava mal do estômago e tinha que tocar aquela noite. Ele ligou pra recepção pra tentar descolar um remédio, uma tele-entrega de farmácia ou uma lista telefônica ... com a sua super voz abixalhada, claro: "Quem fala? Rogério quirido, você sabe quem é essa mocinha que tá passando mal no quarto? Ela é uma DI-VA! DI-VA, entendeu? E eu sou o agente dela. Se essa moça não subir no palco hoje, vocÊ sabe o que vai me acontecer? Pelo amor de Santa Luzia, dá um jeito de eu conseguir um remedinho pra ela. Não tem? Você conhece algum pai de santo? Tambpem não? Ahhhh, minha Santa Edvirges, essa noite eu tô ferrada!" E desligou.
Como o povo do hotel tava numa puta má vontade, pedi então que ele me conseguisse ao menos um chazinho. Ele ligou de novo. Dessa vez com uma voz de macho assassino: "Um chá de boldo no apartamento 407".
Cinco minutos depois o chá tava lá.
Moral da história: Nem sempre a bixa salva o dia.

 
At 4:28 PM, Anonymous Anônimo said...

Acredito em cada vírgula dessa estória, principalmente depois de já ter sido vítima de uma gracinha nesse sentido. Em uma ocasião em Campinas,estava eu tentando convencer uma mocinha a passar uma agradável noite de amor comigo, quando chega essa bicha enrustida e começa a contar uma estória de que o pai dele era pigmeu na África e a mãe era a antropóloga que o trouxe para o Brasil... Aí começou com uma estória absurda, tão absurda que eu já nem me lembro do teor da mesma!! Resultado, uma bela noite de cinco contra um!!

 
At 4:59 PM, Anonymous Anônimo said...

Giu do céu, minha mãe era uma antropóloga sueca.
Encontrei essas gurias um pusta tempo depois no Wooly, eu não lembrava de nenhuma delas mas elas vieram me abordar pra pedir que eu re-contasse essa história.
Abraços

 

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