domingo, novembro 27, 2005

Falando em Puta : Shopping Center Falconplein

Semana passada fui à uma reunião em Antuérpia (cidade que Guilherme Paranaense ganhou a primeira medalha olímpica para nossa pátria amada em 1920, mas isso não vem ao caso agora) junto com um colega de trabalho.
Finda a reunião, fomos almoçar e resolvemos enrolar por lá para não voltarmos ao trabalho.
Foi aí que tivemos a excelente idéia de ir procurar o bairro das putas. Todas as cidades do mundo possuem um bairro das putas, até Bilac e Mirassol.
Rodamos perdidos pela cidade e apos mais de uma hora de carro encontramos o paraíso.
De fato, a prostituição na europa tem deixado ter combatida pois não se pode vencer ao impossível. Ao invés disso o poder público tem tomado medidas para tornar mais nobre a vidas das putas podendo em contrapartida taxá-las como contribuinte.
A rua das putas de Bruxelas eu já visitei, 500 m de vitrines, ruas limpas e organizadas com as cocotinhas na vitrine. Recentemente descobri que existe uma outra rua paralela a essa com as putas véias (de 40 anos pra cima) e tradicionais. São na maioria belgas, algumas ainda são até bonitas e todas são muito classudas e educadas.
Falconplein, o bairro das putas em Antuérpia, é um lugar realmente incrível. Situado ao lado do porto antigo, era frequentado por marinheiros sifilíticos e por drogados aidéticos. A marginalidade era crescente e colaborava para a degradação irreversível do local. Foi aí que alguém percebeu que aquela região era muito bonita, apesar de abandonada, e que poderia valorizar muito os imóveis e o comércio local se um grande investimento voltado a recuperação urbana do pedaço fosse levada a cabo. E foi.
O antigo porto abandonado foi transformado em marina para endinheirados, os imóveis diretamente instalados às margens da marina foram todos restaurados e se tornaram bares e boites da burguesia. Todas as ruas ao redor foram consertadas, luminárias e sanitarios-públicos foram instalados, marginais e bandidos foram removidos por uma equipe liderada pelo Cabo Bruno e , finalmente, o lenocíneo recebeu sua cartada: a prostituição seria tolerada se os inferninhos se adequassem a uma serie de medidas obrigatórias tais como renovar os imoveis e fachadas, tirar as putas das ruas e relocá-las em vitrines, controles de saúde permanente e, obviamente, pagamento de taxas municipais. Acho que o prefeito era frequentador do pedaço pois, não obstante, construiu uma galeria comercial com um posto de saúde, uma unidade da polícia e umas 100 pequenas vitrines onde cabem uma puta e uma cama. .
O local é arquitetonicamente agradável e bem elaborado e situa-se no coração da zona. Ao redor do shopping, várias vitrines exibem suas atrações. Normalmente, um cartaz A4 caprixosamente feito em computador com imagens do clip-art exibem a bandeira da nacionalidade da putinha junto com o nome de guerra e uma fotinho sexy é afixado na vitrine. Alguns ainda acrescentam informações do tipo: "Sado-hard and soft" , "Neederlander anal", "Pretty face & deep troath". Bom isso, pois as vezes voce passa por uma vitrine e só ve uma cadeira vazia (quando a puta estiver cagando) ou uma cortina vermelha (quando a puta estiver trepando) e os cartazes publicitarios caseiros te ajudam a ter uma idéia se vale a pena voltar mais tarde ou não para apreciar a vitrine. Medida publicitária sabiamente adotada para enfrentar esses tempos de globalização e concorrencia acirrada.
Esses países-baixos vivem me surpreendendo ...

sexta-feira, novembro 11, 2005

Neto de peixe ...

Hoje faz uma semana que meu avo amado se foi. Velhão batuta aquele Dr. Silvio (Vô Paizinho para os netos), médico respeitado e solicitado, avo dos sonhos de qualquer netinho consumista e, principalmente, escalavrador de primeira linha. Comia todas e possuia um enorme mal-gosto no quesito beleza. Não importava cor, raça, credo, Dr. Sílvio mandava bala. Passava de saia na frente dele, podia ser até padre, o velho não perdoava.
Numa dessas escalavradas se envolveu com a vítima e desposou-a. Foi seu segundo casamento já que o primeiro, com minha avó, se esvaiu entre uma pulada de cerca e outra.
Eu amava esse velho demais. Todas as minhas férias e feriados prolongados eram na casa dele em Itanhaém. Eu não desgrudava um minuto do Dotô. Passava o dia todo com ele na clínica cumprindo a nobre função que ele me designava: chamador de pacientes. Quando saia paciente da consulta eu me dirigia a sala de espera munido das fichas médicas e chamava o próximo. Durante as consultas eu gostava de ficar desorganizando a imensa estante de amostras-grátis de medicamentos. Tirava tudo da ordem alfabética e colocava por ordem de cor de embalagem. O velho se divertia, achava o máximo.
Aliás, diga se de passagem, eu nunca consegui tirar o velho do sério. Eu tentei muito, desde bem pequeno, mas nunca consegui. Todos os atos de vandalismo mirim realizados na presença dele sempre resultavam num largo sorriso e não raro em gargalhadas.
Em Itanhaém eu tinha o maior orgulho de andar com ele na rua. Toda a cidade o amava. Não havia uma viva alma que não fosse grata a ele por tratar de algum motivo que poderia ir de unha encravada à tumor cerebral. Nós nunca íamos em restaurantes pois nunca deixavam ele pagar a conta. Eu achava isso o máximo mas ele se sentia incomodado e parou de ir a restaurantes.
Dr. Silvio era chefe de todos os postos de saúde da cidade. Atendia a população miserável pela manhã, a tarde atendia os abastados em seu consultório. Possuia também um consultório em casa para emergencias noturnas. Nunca cobrava consultas particulares de pessoas desfavorecidas que batiam em sua casa altas da noite com dores de ouvido ou febre.
Faixa-preta de caratê e corintiano inverterado, eu babava nas histórias que ele me contava. Costumávamos ficar conversando até a madrugada e o sono nos vencer ou sua mulher rodar a baiana.
Nunca me faltou dinheiro pra nada na infância. Eu me abastecia na carteira do Dr. Silvio todos os fnais de semana quando ele passava para nos ver. Repreendido pela minha mãe, ele solicitou que eu apresentasse todas as semanas um "budget" e uma prestação de contas para que ele não me desse dinheiro demais. Caprichosamente eu elaborava a tabela de gastos passados e previstos. Obviamente eu mascarava a prestação de contas e conseguia super-faturar o budget da semana. O resultado aparecia em forma de doces de mocotó, pipocas doce, balas de leite Kids e revista MAD da semana.
Dr. Silvio começou a morrer aos poucos logo após a morte de sua segunda esposa há uns 10 anos atrás. Por noites e mais noites ficou sem dormir chorando copiosamente e gritando o nome dela em prantos pela madruga afora. A partir desse ocorrido, a cabeça do velho começou a dar "tilt". Ele passou a ficar repetitivo e confuso. Aos poucos se enconttrou com outro médico (o Dr. Alzheimer) e perdeu toda a noção de tempo/espaço. E assim sua chama da vida foi aos pouquinhos se apagando, se apagando e se apagou definitivamente durante uma noite de sono no lar de velhinhos que ele passou seus últimos tempos.
Lembrando dele agora eu consigo sentir a barba mal-feita que ele usava de praxe e adorava ralar nas minhas bochechas, o cheiro da cigarrilha "Talvis" que ele fumava e ouço suas gargalhadas, como aquelas que ele dava quando eu surrava meus desafetos na rua da sua casa com os golpes de caratê que ele me ensinava.
Só espero que os anjos do céu estejam usando calças jeans para recebê-lo, senão ...

Semana Quente na Europa

Uma semana sem postar nada. Tudo parado, desatualizado...
Em uma semana enfrentei reuniões em Roterdam (Holanda), Lausane (Suissa) e Antuérpia (aqui mesmo nessa pocilga). Metidão esse meninão, não?
Bom, deixemos de papo furado. Vamos ao que interessa, os fatos da semana:

1) A França arde em chamas
2) A Alemanha arde em chamas
3) A Bélgica arde em chamas
4) A Holanda arde em chamas

Essa é a nova tendencia outono-inverno aqui no velho continente. Se voce é imigrante e está revoltado com a segregação racial ou descontente com sua situação de desempregado cronico, não perca seu tempo montando um grupo de Rap. Ao invés de recitar sua insatisfação ao som de uma bateria eletronica insuportável, junte seus amiguinhos e alguns galões de gasolina e bote para quebrar.
Vale botar fogo em tudo, desde o carro daquele vizinho mala (imigrante como voce), no onibus que leva seu pai trabalhar, na escola que voce tentou estudar mas não conseguiu pois passava o dia fumando maconha com seus coleguinhas, na creche que sua mãe deixa sua irmazinha para poder ganhar o sustento da sua familia, na fábrica de colchões ou na oficina mecanica que trabalham vários vizinhos traidores (também imigrantes) que cometeram o ingrato erro de querer trabalhar e lutar civilizadamente pelos seus direitos levando uma vida digna e honesta.
A polícia vai chegar e, injustamente, tentará controlar a baderna que voce está promovendo. Não se intimide: a polícia é má e racista. O melhor a fazer é jogar pedras e coquetéis molotov nas viaturas e nos carros de bombeiro. Aquela arma que voce usa para assaltar o comércio da região também pode ser útil contra os policiais pois esses otários estão desarmados. Mande chumbo.
Só tome muito cuidado para não cair na mão dos "home", é cana na certa. Pior ainda: aquele ministro racista que chamou voce de "escória", em uma infeliz declaração em cadeia nacional, tá muito puto contigo e mandou avisar que o baderneiro que for preso e condenado será sumariamente expulso a França e enviado ao seu país de origem.
Caso isso aconteça, não fique triste. Essa poderá ser uma excelente oportunidade para voce conhecer seu país de origem pois há tempos que seus pais juntaram o pouco que tinham e se asilaram por aqui numa tentativa de reconstruir uma vida melhor, longe da guerra ou da miséria.
Além de uma viagem de grátis para reencontrar suas raízes voce certamente estará em algum lugar bem melhor. Lembre-se que voce destruiu o seu próprio bairro, atiçou a fúria dos "skinheads" que só estão esperando a poeira baixar para sair caçando seus amiguinhos e o pior de tudo: voce atiçou a fúria de toda a população e abriu uma brecha imensa para que a extrema-direita chegue ao poder nas próximas eleições. Quando Le Pen e outros malucos de extrema-direita assumirem seus postos é bom que voce não esteja por perto mas sinta-se plenamente recompensado por conseguir destruir por completo as bases dessa europa racista e injusta.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Conversando com Deus



Cenário:
Um apartamento no térreo no qual, da janela da sala que abre-se para uma rua de pedestres, um jovem senta-se para apreciar o movimento.


Recém chegado do trabalho, pego uma lata de cerveja e me alojo sentadinho na janela apreciando o movimento dos estudantes e moradores que vem e que vão. Nesse momento, noto uma silhueta feminina de generosas proporções despontando no horizonte. Atento ao deslocamento da silhueta, quase caio de quatro quando ela atinge a área iluminada da rua e revela-se em uma beleza angélica perfeita.
Foi aí que resolvi contactar Deus mesmo depois de decenios de silencio e desprezo, afinal, Deus perdoa tudo:

" Oi Deus, eu sei que faz tempo que não dirijo a palavra ao Senhor mas eu prometo mudar minhas convicções e reconsiderar sua existencia se eu tiver um pedido atendido em toda a minha vida: Faça com que essa beldade olhe para mim, venha em minha direção, pergunte meu nome, o que eu vou fazer essa noite e se eu tenho namorada. Eu responderei com sinceridade à todas as questões e finalizarei dizendo que sou casado, que amo minha esposa e que infelizmente não poderei compartilhar dessa paixão à primeira vista que a tocou. Ela partirá chorando e se suicidará deprimida pela rejeição. Eu entrarei em casa, beijarei e continuarei a amar minha esposa como sempre, sem diminuir esse amor em nada, porém dormirei com a alma e a auto-estima explodindo de alegria por ter sido notado por uma mulher tão bela."

Deus não me atendeu. A bela belga loira e estilosa seguiu seu passo sem nem mesmo notar a minha tímida existencia sentado no parapeito da janela...
Meio minuto depois, eis que desponta pela rua dois mendigos bebados acompanhados por um cachorro podre. Resolvo dar uma segunda chance a Deus e fervorosamente começo a rezar:

"Oh Divino Deus que rege o universo, eu sei que faz tempo que não conversamos e que eu pedi demais há meio minuto atrás mas agora vou pedir algo muito mais simples e, se o Senhor me atender, eu vou reconsiderar sua existencia e tenho certeza que poderemos ser amigos: Por favor, faça com que esses bebuns não venham encher meu saco. Me torne invisível perante seus olhos empapuçados de cerveja !"

Nesse momento, dois bebados fedorentos me cercam e um cachorro leproso vem lamber minha mão. Eles me contam piadas incompreensíveis, me perguntam se eu teria outra cerveja como a que eu estou tomando para servir para eles. Educadamente digo que não. Continuam a me falar, numa linguagem que desconheço, sobre o governo, sobre o clima e me pedem uma moeda para comprar uma cerveja. Educadamente, enfio a mão no bolso e deposito um euro na mão cheia de feridas do bebum. Eles agradecem e continuam sua caminhada etílica. O cachorro leproso pára de lamber minha mão e, antes de seguir seus mestres, solta um lustruoso cagalhão em frente à minha janela.

Definitivamente, acho que eu e Deus estamos com sérios problemas de relacionamento...