terça-feira, março 28, 2006

Tá dando quórum

Deixa eu contabilizar:

1) Minha irmã
2) Meu irmão (a cada dois meses)
3) O Primo do Joe
4) Karina
5) Tatá
6) Fab Fucker

Não são só três os leitores, na verdade já são seis !!!
Com um quórum desse serei mais zeloso nas atualizações e prestarei mais atenção nos dois "s" e nas cedilhas. Com um córum desse vale até a pena prestar mais atenção nos "emes" antes de "pe" e "be".
Só não me encham o saco com concordâncias e acentuações. O quórum* tem que aumentar em dez vezes para que eu valha a pena eu perder meu precioso tempo em aulas particulares de redação e gramática.

*Desculpe aí, senhora editora. Estava horrível mesmo...

domingo, março 26, 2006

Arquitetando no insólito

O que me consola em ter uma profissão decadente é o fato de deixarmos uma marca na terra que durará para todo ( ou quase) o sempre.
Todas as casas, prédios, industrias que eu projetei e construí no Brasil estarão lá, na sua maioria, daqui a muitos anos.
Ao contrário dos médicos, que enterram seus erros, nossos erros e acertos estarão sempre expostos e visíveis para que todos possam elogiar ou lamentar nosso trabalho.
Depois de seis meses, comecei a deixar meus pequenos traços pela Bélgica. Uma empresa farmacêutica e dois bancos. Mas para mim o que vale são os traços insólitos: uma casa no Burundi (que já foi bombardeada durante a construção das fundações) e uma casa em Belgrado (ex-Iugoslávia, atual Sérvia-Monte Negro).
O projeto do Burundi veio através de indicação de amigos do primo do amigo. Conheci Esperança, uma negra mesclada de tutsi com hutu que se exilou aqui nos anos 70 quando seu pai, na época vice-presidente do Burundi, foi violentamente assassinado por pregar a igualdade das etnias na sua trágica campanha eleitoral para presidente. Sua família ainda é adorada e odiada na remota república mas ela resolveu que seria hora de construir um hotel que seria também sua casa. O projeto foi feito com carinho e esmero. Foi aceito com mais carinho e esmero ainda. Esperança foi ao Burundi e ordenou o começo das obras. Ela e seu marido me convidaram para acompanhá-los pois ela também quer que eu participe da frente de reconstrução do país, devastado por guerra sobre guerra. Declinei gentilmente a tal honraria e não foi em má hora. Começaram a obra do hotel e os rebeldes hutus lançaram um míssil no canteiro. Ninguém morreu, ainda bem, só acho que ainda não é hora de participar da reconstrução de um país que nem sabe direito o que é viver em paz.
Essa semana começo um outro projeto insólito: Belgrado.
Vaso Mirolavic, filho de uma próspera família exilada na Bélgica durante o comunismo, finalmente resolveu reativar suas raízes Sérvias e comprou um terreno num condomínio de luxo em Belgrado. Tá feliz da vida: pagou preço de banana e, em caso de guerra, assistirá a bombardeios de camarote.
Não fui pro Burundi ainda mas a proposta de ir pra Belgrado conhecer o terreno e tudo mais me soa coerente, principalmente em épocas em que os Milosevics da vida já batera o ponto.
Minha esperança é que esses dois projetos resistam à instabilidade política de seus respectivos países e que eu possa passar férias prolongadas na casa de meus clientes sem voltar pra minha casa dentro de um saco-plástico.
A única coisa que me estimula é que eu não preciso de muito capricho nos projetos. Duvido que eles ainda existirão daqui a uns cinco anos.

Desculpa então ...

Fiquei um tempinho sem escrever pois não havia nada de novo à relatar.
Até cheguei a colocar dois posts novos aqui mas nem todos os meus tres leitores chegaram a lê-los. Eram muito chatos e mal escritos. Deletei menos de 24 horas depois.
Não que os próxmos posts sejam bem escritos pois eu sou um Jeca na arte de escrever na minha língua materna mas se voces tres conseguirem entender o que eu quis dizer já está de bom tamanho.
Deixemos as formalidades gramaticais pra lá ...

Dia-a-Dia no trabalho - Born to be peão

Eu nasci para ser peão. Tenho que admitir isso.
Apesar do constante assédio do Zé Bundin.... OOOps, do diretor amigão em angariar minha amizade eu simplesmente não me sinto à vontade no meio da alta casta.
Quando o Zé Bundi.... OOps novamente, o Diretor amigão me convida para um café eu sigo as normas da politesse , acompanho-o, converso em holandês até onde meus conhecimentos me permitem, concordo com tudo o que ele diz e fico discretamente olhando para o relógio para voltar o mais rápido possível para minha sala.
Isso não é o que ocorre quando encontro com o Morat. Deixe-me apresentá-lo: Morat é o nosso "faz-tudo" na empresa. Faxina o castelo, repara a máquina de café que vive em pane, alimenta as impressoras e os ploters com cartuchos de tinta e papéis, troca lâmpadas e cuida do jardim.
Turco muçulmano, há dois meses esteve em Meca cumprindo com o ritual de peregrinação obrigatório que todos os islamitas devem realizar pelo menos uma vez na vida. Eu, acompanhando os noticários sobre os acidentes mortais dos peregrinos durante o ritual, ligava para ele um vez por semana no celular para saber se ele ainda estava vivo. Graças a Alah ele voltou vivo. Ele e a mãe.
Todas as manhãs quando chego ao trabalho a primeira coisa que faço é partilhar um café e dois dedos de prosa com o Morat. Mesmo se tenho que ir diretamente a um cliente eu faço o desvio para tomar o café com ele e só depois vou ao cliente. Virou um hábito sagrado.
Falamos de futebol, da dupla enrabada brasileira em cima do selecionado turco na última copa, de religião, de islamitas radicais, das dificuldades de sermos estrangeiros em um país europeu, do alto índice reprodutivo dos turcos (que, junto com os chineses dominarão o mundo pela quantidade dentro de 50 anos).
Morat estudou economia mas abandono-a no último ano para imigrar para a Bélgica. Seu irmão médico não conseguia arrumar trabalho na Turquia e veio para cá antes para ser rala-bosta mas viver com um pouco de dignidade financeira. Ele decidiu não esperar pelo diploma. Pegou a viola, botou na sacola, e, junto com sua esposa, mãe e tres filhos, veio para cá para trabalhar. Construiu sua casa repleta de quartos em Ixelles (lugarzinho maneiro em Bruxelas) e vai pagá-la em 25 anos.
Sábado que vem eu mudo de apartamento. Morat estará aqui com sua Van de perueiro ilegal para me ajudar. Já marcamos um Kebab legítimo na casa dele assim que o sol permitir e eu irei com o maior prazer.
O mundo tentou me transformar em alguém esnobe e elitista mas isso é chato demais. Nasci para ser peão, amém.

Tocando novamente! (mas com moderação)

Sábado passado eu comecei a tocar com esse cara aqui: Sébi Lee
Foi extremamente prático. Nos conhecemos durante uma briga de boteco onde o amigão acima queria bater num boboca e eu, educadamente contive-o na base da porrada. Como o boboca continuou a provocação eu resolvi soltá-lo e ajudá-lo no telecath final.
Após o ocorrido nos simpatizamos e encontramos na música o nosso ponto de paz e harmonia.
Duas semanas depois nós dois cumprimos nossas promessas: ele iria tocar num café perto de Bruxelas e iria levar um baixo acústico para que eu tocasse com ele e eu deveria comparecer para as honras. Compareci e o baixo estava lá.
Nunca tinha tocado uma noite inteira com um baixo duas vezes o meu tamanho mas, modestia a parte, me saí muito bem e sem a derme e epiderme dos meus dedos da mão direita.
O ponto alto da noite foi poder tocar "Americano" de Renato Carusone na voz do Tony, um guitarrista de primeira linha vindo de Napoles enquanto a chusma alcolizada dançava e batia palmas.
Nos encontraremos para tocar na sequencia da agenda do guri brigão, posudo e talentoso. O baixo estará lá me esperando e eu também.

quinta-feira, março 09, 2006

Quando vemos o mundo...

A primeira vez que eu vi o mundo foi no ano de 1992. Na época eu tinha 22 aninhos, vivia sob o julgo de um pai controlador (Sim, pais controlam filhos homens também! Principalmente filhos com histórico negro de delinquência juvenil), nunca tinha saído de casa antes e muito menos morado sozinho.
Após seis meses me preparando, aprendendo francês, lutando pela vaga no intercâmbio entre a FAU-PUCC e a École d'Architecture de Grenoble, apresentando um comportamento exemplar para que meu pai acreditasse que longe das garras dele eu não apodreceria em alguma prisão francesa, finalmente eu pude acordar na terra de Molière e Tabatha Cash (atriz pornô) durante um ano universitário inteiro. Desde então, nunca mais vi a vida da mesma maneira que via antes e esse foi um dos motivos que me fizeram sair pelo mundo novamente. Quando digo sair pelo mundo eu não me refiro a fazer viagens turísticas tirando fotos na frente da Torre Eiffel ou abraçando o Mickey Mouse na Disney.
O mundo toma novas dimensões quando estamos longe de casa, longe da familia, tentando falar e entender uma nova língua, nos adaptar à uma nova cultura, novos amigos e novas rotinas. Essa adaptação, de uma maneira geral é fácil pois normalmente visamos expandir nossos horizontes culturais em países auto-intitulados de "primeiro-mundo"(eu ainda não conheci ninguém que resolveu fazer intercâmbio na Somália ou no Iêmen).
Se existisse blog na época que eu estava na França com certeza eu o atualizaria uma vez a cada sei-lá-quando. A quantidade de informações e de novidades era tanta que nunca sobraria tempo para redigí-las.
Minha estadia na França me fez desvendar mitos (franceses tomam banho todos os dias mas as mulheres não depilam o sovaco), me fez descobrir que vinho frances é realmente incrível, que todos os países da europa são realmente próximos uns dos outros e que xoxotas tem o mesmo cheiro e gosto independente do país onde ela for consumida.
Daí chegou o dia de voltar pra casa. Eu sabia que essa experiência tinha que ser decantada em algum lugar e não seria na europa que isso aconteceria.
Meu processo de adaptação de volta ao lar foi infinitamente mais complicado e sofrível do que eu imaginava. Voltei chato, nostálgico, ligava bêbado para meus amigos em Grenoble para chorar de saudades, comecei a me drogar e a me prostituir, achava que minha vida tinha perdido todo o sentido. Minha cidade parecia mais feia e esburacada do que antes, a situação econômica do país parecia pior do que antes, minha faculdade parecia mais ridícula do que antes.
Depois de um tempo, quando me reinseri na realidade na qual eu sempre vivi, eu descobri que a grande lição que a vida estava me dando era exatamente a capacidade de compreender que o mundo não se resumia ao quintal da minha casa ou à Torre Eiffel, o mundo era não era mais simplesmente um espaço físico na qual eu poderia desfrutar de algumas de suas belezas durante as férias. O mundo para mim virou minha vida e minha vida o mundo.
Hoje em dia meu mundo vai além da cidade vizinha, vai além do meu orgulho, vai além da minha profissão. Só não vai além da minha vida pois minha vida é o meu mundo.
Pra quê eu escrevi tudo isso? Oras, pra fazer minha amiga Rainha Catarina* apreciar cada pedacinho do mundo dela, que agora tá enorme.

*A Rainha Catarina é uma fofura de menina, escreve deliciosamente bem e que acaba de ver o mundo agora. Ex-groupie fã obsessiva da banda que eu tocava, confesso que ha muuuuito tempo atrás eu até tentei traçá-la mas ela usou de argumentos ultra-nerd para afastar o predador de sua cesta de guloseimas. Hoje, mesmo sem conhecê-la profundamente (no sentido literal e figurado), nutro um carinho enorme por ela e espero que ela aprenda a desfrutar do novo mundo que ela vive.