quinta-feira, março 09, 2006

Quando vemos o mundo...

A primeira vez que eu vi o mundo foi no ano de 1992. Na época eu tinha 22 aninhos, vivia sob o julgo de um pai controlador (Sim, pais controlam filhos homens também! Principalmente filhos com histórico negro de delinquência juvenil), nunca tinha saído de casa antes e muito menos morado sozinho.
Após seis meses me preparando, aprendendo francês, lutando pela vaga no intercâmbio entre a FAU-PUCC e a École d'Architecture de Grenoble, apresentando um comportamento exemplar para que meu pai acreditasse que longe das garras dele eu não apodreceria em alguma prisão francesa, finalmente eu pude acordar na terra de Molière e Tabatha Cash (atriz pornô) durante um ano universitário inteiro. Desde então, nunca mais vi a vida da mesma maneira que via antes e esse foi um dos motivos que me fizeram sair pelo mundo novamente. Quando digo sair pelo mundo eu não me refiro a fazer viagens turísticas tirando fotos na frente da Torre Eiffel ou abraçando o Mickey Mouse na Disney.
O mundo toma novas dimensões quando estamos longe de casa, longe da familia, tentando falar e entender uma nova língua, nos adaptar à uma nova cultura, novos amigos e novas rotinas. Essa adaptação, de uma maneira geral é fácil pois normalmente visamos expandir nossos horizontes culturais em países auto-intitulados de "primeiro-mundo"(eu ainda não conheci ninguém que resolveu fazer intercâmbio na Somália ou no Iêmen).
Se existisse blog na época que eu estava na França com certeza eu o atualizaria uma vez a cada sei-lá-quando. A quantidade de informações e de novidades era tanta que nunca sobraria tempo para redigí-las.
Minha estadia na França me fez desvendar mitos (franceses tomam banho todos os dias mas as mulheres não depilam o sovaco), me fez descobrir que vinho frances é realmente incrível, que todos os países da europa são realmente próximos uns dos outros e que xoxotas tem o mesmo cheiro e gosto independente do país onde ela for consumida.
Daí chegou o dia de voltar pra casa. Eu sabia que essa experiência tinha que ser decantada em algum lugar e não seria na europa que isso aconteceria.
Meu processo de adaptação de volta ao lar foi infinitamente mais complicado e sofrível do que eu imaginava. Voltei chato, nostálgico, ligava bêbado para meus amigos em Grenoble para chorar de saudades, comecei a me drogar e a me prostituir, achava que minha vida tinha perdido todo o sentido. Minha cidade parecia mais feia e esburacada do que antes, a situação econômica do país parecia pior do que antes, minha faculdade parecia mais ridícula do que antes.
Depois de um tempo, quando me reinseri na realidade na qual eu sempre vivi, eu descobri que a grande lição que a vida estava me dando era exatamente a capacidade de compreender que o mundo não se resumia ao quintal da minha casa ou à Torre Eiffel, o mundo era não era mais simplesmente um espaço físico na qual eu poderia desfrutar de algumas de suas belezas durante as férias. O mundo para mim virou minha vida e minha vida o mundo.
Hoje em dia meu mundo vai além da cidade vizinha, vai além do meu orgulho, vai além da minha profissão. Só não vai além da minha vida pois minha vida é o meu mundo.
Pra quê eu escrevi tudo isso? Oras, pra fazer minha amiga Rainha Catarina* apreciar cada pedacinho do mundo dela, que agora tá enorme.

*A Rainha Catarina é uma fofura de menina, escreve deliciosamente bem e que acaba de ver o mundo agora. Ex-groupie fã obsessiva da banda que eu tocava, confesso que ha muuuuito tempo atrás eu até tentei traçá-la mas ela usou de argumentos ultra-nerd para afastar o predador de sua cesta de guloseimas. Hoje, mesmo sem conhecê-la profundamente (no sentido literal e figurado), nutro um carinho enorme por ela e espero que ela aprenda a desfrutar do novo mundo que ela vive.

1 Comments:

At 2:40 AM, Anonymous Anônimo said...

Joey, ca-ra-ca...que honra! Fico mt feliz com seu texto, escrito num dia mt certeiro, em que eu experimentei uma saudade monstra da minha Austin. Thank you, thank you, thanks a million por um post tão bacana, e pela massaginha no eguinho! Só por tua causa eu não desativo aquele reino decadente que é Catarinalândia.
beijão!
Karina

 

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