domingo, março 26, 2006

Arquitetando no insólito

O que me consola em ter uma profissão decadente é o fato de deixarmos uma marca na terra que durará para todo ( ou quase) o sempre.
Todas as casas, prédios, industrias que eu projetei e construí no Brasil estarão lá, na sua maioria, daqui a muitos anos.
Ao contrário dos médicos, que enterram seus erros, nossos erros e acertos estarão sempre expostos e visíveis para que todos possam elogiar ou lamentar nosso trabalho.
Depois de seis meses, comecei a deixar meus pequenos traços pela Bélgica. Uma empresa farmacêutica e dois bancos. Mas para mim o que vale são os traços insólitos: uma casa no Burundi (que já foi bombardeada durante a construção das fundações) e uma casa em Belgrado (ex-Iugoslávia, atual Sérvia-Monte Negro).
O projeto do Burundi veio através de indicação de amigos do primo do amigo. Conheci Esperança, uma negra mesclada de tutsi com hutu que se exilou aqui nos anos 70 quando seu pai, na época vice-presidente do Burundi, foi violentamente assassinado por pregar a igualdade das etnias na sua trágica campanha eleitoral para presidente. Sua família ainda é adorada e odiada na remota república mas ela resolveu que seria hora de construir um hotel que seria também sua casa. O projeto foi feito com carinho e esmero. Foi aceito com mais carinho e esmero ainda. Esperança foi ao Burundi e ordenou o começo das obras. Ela e seu marido me convidaram para acompanhá-los pois ela também quer que eu participe da frente de reconstrução do país, devastado por guerra sobre guerra. Declinei gentilmente a tal honraria e não foi em má hora. Começaram a obra do hotel e os rebeldes hutus lançaram um míssil no canteiro. Ninguém morreu, ainda bem, só acho que ainda não é hora de participar da reconstrução de um país que nem sabe direito o que é viver em paz.
Essa semana começo um outro projeto insólito: Belgrado.
Vaso Mirolavic, filho de uma próspera família exilada na Bélgica durante o comunismo, finalmente resolveu reativar suas raízes Sérvias e comprou um terreno num condomínio de luxo em Belgrado. Tá feliz da vida: pagou preço de banana e, em caso de guerra, assistirá a bombardeios de camarote.
Não fui pro Burundi ainda mas a proposta de ir pra Belgrado conhecer o terreno e tudo mais me soa coerente, principalmente em épocas em que os Milosevics da vida já batera o ponto.
Minha esperança é que esses dois projetos resistam à instabilidade política de seus respectivos países e que eu possa passar férias prolongadas na casa de meus clientes sem voltar pra minha casa dentro de um saco-plástico.
A única coisa que me estimula é que eu não preciso de muito capricho nos projetos. Duvido que eles ainda existirão daqui a uns cinco anos.

3 Comments:

At 5:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Joey, uma dos seus 3 leitores vem por meio desta passar a mão na sua cabeça e dizer que tá tudobem, que a gente ocntinua lendo teu blog - assim como vc continua lendo o meu...mas please, é muçulmano, fião! Senão Alah te pega, rapaz!
Isso é que é amigo chique - já deixou suas marcas no Brasil e no mundo...e eu, Rainha por vocaçãoe professora e pesquisadora nas horas, tento malabarismo e strip-tease pra fazer meus alunos prestarem atenção em moi. Parabéns, bicho!! Queria ter um filho assim...
Beijão!
Karina

 
At 6:17 PM, Blogger Joe Bass said...

Putz, Santa Catarina! Tá corrigido.
Vê se não espalha por aí, ok?
Beijos

* Malditos dois "s", malditos cedilhas. Que a fúria de Alah os consumam.

 
At 3:21 PM, Anonymous Anônimo said...

Confundiu Alá com Mussum?
Beijos saudosos
a Irmã

 

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