quarta-feira, novembro 22, 2006

Um dia na minha vida: NOITE

18 :30 pm: A noite para mim é o momento de reflexão e analise de minhas atitudes numa tentativa de procurar sempre ser uma pessoa melhor e me aproximar do meu eu-interior em busca de respostas para minhas indagações mais profundas. Rumo então para o boteco com alguns colegas de trabalho alcoolatras. O boteco varia conforme a ocasião. As vezes é o “Café du Lac” em Rixensart quando queremos falar mal dos nossos diretores sem belas xoxotinhas para desviar nossa linha de raciocínio, às vezes é o “la Clé Verte” quando queremos apreciar e falar de xoxotinhas sem que assuntos corporativos atrapalhem nossa linha de raciocínio. Finalmente, quando não queremos falar de nada vamos ao “Cubana Café” em Rosières. A música lá é tão ensurdecedora que mesmo se surgisse algum assunto interessante nunca conseguiríamos discorrer por muito tempo pois acabaríamos com a voz na metade da narrativa.
Optamos hoje pelo “Café du Lac”. Paro meu carro no lado de cá da rua pois o lado de lá muda a cidade e o idioma e se um policial flamengo me pega bêbado entrando no carro ele não me deixa nem dar a partida. Já do lado de cá, os policiais wallons são amigões e não enchem o saco pois eles também não querem argumentar com bebum.
Entro no bar e peço minha primeira cerveja relaxante.

20:00 pm: Após oito cervejas relaxantes e muita fofoca maldosa contra os imbecís dos diretores da empresa, faço uma merecida pausa para o primeiro pipi e aproveito o ensejo para ligar pra casa e avisar a patroa que estou tomando um chopinho com os amigos mas que logo-logo já estarei em casa. Lavo as mãos e volto pro balcão.
O papo continua, cada um conta uma história corporativa mais cabeluda que o outro, dá-lhe cervejinha relaxante, “o fulano vetou minha proposta, aquele filho de uma puta prenha...”, e dá-lhe cervejinha relaxante. Alguém do outro lado do balcão resolve se meter na história também contando um causo que ocorreu com ele em 1984 quando ele era escriturário do banco tal, e dá-lhe cervejinha relaxante.

22:30 pm: Um sem-número de cervejinhas relaxantes depois eu reparo que a garçonete horrorosa (que a meu ver usa dentadura) está ficando mais bonita do que nunca. O papo também já mudou: ao invés de malhar o chefe agora estamos trocando emocionadas juras de amizades eternas. Vou ao banheiro e mijo na lixeira pois não consigo acertar a privada. Mijo no meu sapato novo também e mijo nas mãos. Saio sem lavá-las. Reintero minha amizade eterna e o meu “nada nos separará” a todos do grupo com um forte abraço e apertos de mãos mijada e sigo só o meu caminho.
Entro no carro e tenho dificuldades para retirá-lo de onde eu estacionei. Quando finalmente consigo finalizar a manobra eu noto que o carro que estava parado na frente do meu e o carro de trás estão com o alarme disparado. Pego a estrada olhando para minha estrela guia e tapando um olho para que a visão de duas estradas voltem a ser a de uma estrada só.

23:00 pm: Chego em casa e deixo o espelho retrovisor no pilar do estacionamento do prédio. Subo rastejando os quatro intermináveis andares que me separam do chão à minha cama.
Abro a porta desesperado, tropeço nos cachorros e rumo imediatamente ao banheiro. Inútil. Eu me esqueci de tirar o bilau pra fora e me mijo todo. Vomito na banheira e na pia. Abro a torneira mas a pia entope a a água vomitada se espalha pelo banheiro todo. Escorrego e caio sobre a água com vômito. Nesse momento eu escuto minha esposa fechando a porta do quarto à chave. Num breve momento de sanidade eu consigo tirar toda a roupa e jogá-la na banheira, pego uma toalha limpinha e me enxugo.

00:00 am: Com os cachorros lambendo os resíduos de vômito que se depositaram por entre meus dedos dos pés, eu vou até a cozinha esfomeado e tento fritar um ovo. Não dá certo. Tento fritar outro. Novamente não rolou e me dou um ultimato: “Tem que ser dessa vez”. Jogo no lixo o terceiro ovo esturricado e desisto de comer. Ao meio da fumaça produzida pela fritura eu vou diretamente para o sofá da sala e durmo com metade do corpo pra fora.
Acordarei amanhã com dores atrozes pelo corpo todo e amaldiçoarei todos os deuses por eu ter esquecido novamente de trocar a maldita da porra da campainha do despertador do meu celular.


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