quinta-feira, abril 27, 2006

Amizade é isso aí:

Recebi uns dias atrás a visita de um amigão que realmente me deixou muito feliz.
Minha amizade com o Wilson data nossa adolescência. Confesso que no início eu tinha um certo asco, não dele, mas da capacidade incrível que ele tinha para namorar com barangas. Namoro mesmo: mãos dadas em público, cafunés, juras de amor e almoço dominical na casa dos pais dela. Na verdade sua coragem era invejável já que não foram poucas as desprovidas em estética que encontraram consolo e carinho entre os braços desse Don Juan das Oprimidas.
No nosso currículo fraternal constam muitas festas, muitas viagens, algumas passagens de ano na praia mas constam também, principalmente, a lealdade e a amizade em todas as circunstâncias. E foram várias, boas e más.
Nos ajudamos muito na época em que nos encontramos sem emprego, duros, fodidos e não-pagos mas lembramos sempre com carinho dessa passagem da nossa vida. Podíamos contar um com o outro mesmo com o pouco que podíamos oferecer.
Anos mais tarde, deus ficou com pena de nós, reverteu nossa vida profissional e deu um "bonus extra" pro Wilson: sua linda esposa Yuli que, além de completá-lo em todos os aspectos, ajudou a limpar aquela imagem de faxineiro de fim-de-festa que o estigmatizava.
A vinda dele pra cá, da maneira como foi, me fez refletir sobre o sentido da palavra amizade: ele viajava de mochileiro pela europa com a esposa, deu "cinco minutos" e eles resolveram vir até Bruxelas que, originalmente, não fazia parte do itinerário programado. Ele achava que tinha meu telefone em alguma troca de mail mas, chegando num cybercafé, constatou que ele só "achava". Ele não deu nem "tchum" a esse fato. Me mandou um mail dizendo que estava em Bruxelas, que ficaria só duas noites, comunicou o endereço do hotel e o telefone. Ele sabia que, se eu lesse o mail a tempo, nós poderíamos nos ver. Isso é o que eu chamo de "Friend's Call". Li o mail na mesma hora que ele enviou e quando ele chegou de volta ao hotel já havia uma mensagem minha na recepção com todos os números de telefone possíveis para encontrar. Uma hora depois eu já estava no hotel revendo esse meu grande amigo.
O amigo é aquele cara que não importa quanto tempo você não o vê ou não telefona. Quando você o encontra é como se a última vez que o viu tivesse sido na semana passada. Não existe cobrança, não existe ressentimento pela distância e não existe sacrifício. Me surpreendeu o fato de nem ter havido a necessidade de planejamento. Ele não ficou meses me escrevendo para saber quanto custa um Big Mac na europa ou para saber se Bruxelas tinha alguma coisa de bom para visitar. Ele sabia que eu vivia em Bruxelas e me ver já era motivo suficiente para que ele viesse até aqui.
Pena que foi muito pouco tempo, mal deu pra matar as saudades.
Obviamente fizemos uma degustação de cervejas artesanais até cair e no dia seguinte, enquanto eu trabalhava, eles cumpriram o roteiro "turista babaca". A noite levei-os para conhecer um pouco da minha vida: apresentei alguns amigos, mostrei onde trabalhava e levei-os para minha casa onde comemos uma pizza improvisada com degustação de cervejas artesanais até cair acompanhadas por muito bate-papo.
Que deus me ajude sempre a preservar essas raras porém suficientes amizades verdadeiras pois isso sim é bálsamo para a alma e acalento para o coração.

Bom, vamos encerrar com essa viadagem toda: Amigão, à la santé! Nos veremos em breve.