A Estória da Baratinha Decodificada

Com arranjos a cargo do maestro Radamés Gnatalli e Francisco Mignone, Braguinha produziu dezenas de disquinhos com as mais maravilhosas narrativas e melodias inesquecíveis porém, após eu ouvir mais de dez vezes a história da Baratinha, cheguei à conclusão que o que era para ser uma bela e triste estória infantil, era na verdade uma intriga pululada por fatores preconceituosos, cobiça e interesses financeiros. Percebam as mensagens subliminares negativas para a formação do caráter das crianças através dessa minha análise semiótica estrofe à estrofe deste velho disquinho colorido. Deixo aqui as conclusões. Pensem a respeito, o assunto é muito sério:
Resumo da Análise Semiótica da Estória da Dona Baratinha
(A análise semiótica da canção propicia uma descrição justamente pela decodificação do difuso, das relações entre fala e canto de um lado, e entre letra e melodia de outro, trazendo à tona as instâncias complexas que o verbal não carrega sozinho.)
(A análise semiótica da canção propicia uma descrição justamente pela decodificação do difuso, das relações entre fala e canto de um lado, e entre letra e melodia de outro, trazendo à tona as instâncias complexas que o verbal não carrega sozinho.)
"Era uma vez uma baratinha, varrendo a casa achou um vintém. Comprou uma fita, amarrou no cabelo e foi à janela cantar assim:
- Quem quer casar com a Senhora Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha ? É carinhosa e quem com ela se casar, terá doces todo dia, no almoço e no jantar ...."
- Quem quer casar com a Senhora Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha ? É carinhosa e quem com ela se casar, terá doces todo dia, no almoço e no jantar ...."
No trecho acima, início da narrativa, a Dona Baratinha apresenta-se como uma personagem completamente infeliz pois teve que achar um vintém para ser desejada por alguém (rimou). Notem que sua beleza, aparentemente, foi sendimentada pelo fato de comprar uma fita e amarrá-la no cabelo. A prática do suborno fica evidente com o fato dela oferecer doces no almoço e no jantar para o "felizardo". Em suma, a Dona Baratinha raciocinou: Achei uma bolada, comprei minha beleza e agora comprarei um marido.
" - ... Passem passem cavalheiros, passem todos sem tardar, o mais belo com certeza minha mão irá ganhar."
Percebam a afobação da Dona Baratinha em arrumar logo um otário: "Passem todos sem tardar !" . A horda de interesseiros era tão grande que ela tinha que avaliá-los às pressas. Com isso, Dona Baratinha utiliza-se de métodos fúteis para a escolha do seu amado: prioriza os padrões estéticos dos pretendentes. O mais belo poderia ser o menos interessante, o mais inconsistente, o mais nulo, mas ele seria sempre o mais belo, o bibelô, o objeto sexual.
"Naquele momento, com o passo lento e bem pachorrento passou um boi.....- Boizinho que vai passando, quer comigo se casar ?" - Vejam como a Dona Baratinha está se oferecendo tal qual uma biscate, se entregando ao primeiro que passa
"Óh tão linda senhorita quem rejeita lhe esposar ?" - Um interesseiro nato, nunca ouviu antes falar na Dona Baratinha pois se mostra completamente formal no trato com tal messalina, agora aparece lépido e faceiro querendo desposá-la. Com certeza estava de olho no dinheiro na caixinha.
" - Sou porém muito sensível e medo tudo me traz, diga primeiro Boizinho, como é que você faz? " Pronto! Esse papo de ser muito sensível, coisa e tal, revela que Dona Baratinha, baseada em arquétipos do noivo perfeito, tinha que encontrar algum defeito no pobre boi. Todo mundo sabe como faz um boi, ela também sabia. Percebam também a dupla conotação na pergunta: "...como é que você faz ?"A vulgívaga queria desgraçar com o infeliz do boi e assim o fez:
"-Muuuuuu, muuuuuuuuu ! (fez o boizinho)
-Deus me livre de ter um noivo, mugindo dessa maneira, terei sustos todo dia, terei medo a noite inteira ...
E assim lá se foi desiludido o pobre boi ...."
A marafaia conseguiu o que queria. Humilhação, destrato e perpetuação da velha mentalidade do "fator estético". Esse mesmo golpe falacioso, só pra não alongar muito eu antecipo, ela passou num burinho e num cabritinho. Todos seguiram pela estrada completamente tristes e humilhados, a beira do suicídio.
Vão sentindo o resultado, quem muito escolhe...
Bom, passou por lá o Senhor João Ratão ou, segundo a narrativa, era o garboso e pimposo Senhor Ratão. Foi o escolhido, lógico. A ervoeira, após a pergunta do "como é que voce faz?" disse: "- Isso sim que é voz bonita , não pode assustar ninguém, até que enfim eu encontrei o noivo que me convém!" Daí então coroa-se a falsidade e jogo de interesses. A fubana e o lacraio cantam em uníssono: " Na matriz do rancho velho dia sete casarão, a Senhora Baratinha e o Doutor João Ratão. A sua amada presença, será muito apreciada, pode trazer os amigos e também a criançada. Porque depois do casório vai haver festa animada, sendo servido aos convivas uma lauta feijoada."
A ostentação começa a tomar conta do casal. Pode vir quem quiser, o importante é que eles querem mostrar que: Nós temos, nós podemos, vocês que se danem. Curtam essa brecha que daremos para que vocês se divirtam.
" Ahhhh, maldita feijoada, que tentação. Transtornou toda a vida do Senhor João Ratão"
Maldita feijoada? Essa estória ganante e corrupciosa vai meter o pau na feijoada? Vai falar sobre gula? É isso?
"Eu vou contar pra voces o que aconteceu. Naquela manhã........."
Pombas Dona Narradora, todo mundo sabe o que aconteceu. O casório foi pro brejo pois o garboso e pimpão Senhor João Ratão, tomado pelo desejo pecaminoso da gula, caiu na panela do feijão. Interessante notar que a narradora toda vez que se refere aos aposentos do João Ratão ela diz: "O noivo em seu BELO APARTAMENTO", o que prova que a murixaba da Dona Baratinha utilizou de métodos inescrupulosos para se juntar ao rico e poderoso rato, já sabendo de ante-mão dos dotes financeiros de tal ser.
Não quero me estender mais. O Maestro Gnattali soube descrever com a triste melodia em escala cromátida menor o triste fim dessa história: a Dona Baratinha não se casou com o João Ratão, passou o maior carão na igreja sendo abandonada no altar. Virou uma barata velha, gorda e cheia de varizes que a molecada do bairro sacaneou para sempre enquanto ela ficava tristonha na janela cantando:
"- Quem quer casar com a Senhora Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha ? É carinhosa e quem com ela se casar, terá doces todo dia, no almoço e no jantar ...."
É isso aí mulherada, quem desdenha nunca tem e quem muito escolhe também. Nem que encontre um vintém.
E eu, se um dia tiver filhos, juro que os pouparei de ouvir essas histórias macabras e perniciosas que um dia habitaram o meu imaginário infantil.
4 Comments:
Na primeira análise não podemos incluir a puta Edna ...Humm... a segunda análise me faz pensar em mim mesmo...agora no terceiro indentifiquei vc! Bom...identifico eu vc e fab fuckers por todo lado! Hey Joe vc escreveu com o Houaiess no ladinho não é!! Bom...(OFF)Cada comentário é um gole de pinga...a Cla tá dormindo aqui do lado(novidade!!) Tô escutando o jogo do Grêmio e tá 3 a 0 até agora!) Well...vulgívaga!...daonde tu tirou isso..haha...Bem..."Curtam essa brecha que daremos para que vcs se divirtam!" ...hi caralho, tô nessa!! A minha cara! Haha...ei...murixaba!!!!.. Ah não agora não quero mais ler...bom agora to no final mesmo pôôôrrrrra!!!... Bom...bom trabalho maestrosssss...a minha namorada gostas! Uêba! Eu como com varisez também!!
Fab Fucker, Juro que eu acho que voce tomou ácido pra fazer éssa análise da análise semiótica da fábula fabulosa...
(morando com a Clá ??? Casou ???
Relaxa, Joe, que as crianças de hoje não são mais baratinhas. São até bem carinhas. Quem vai querer saber de dois vintens? E trancinhas no cabelo? E feijãozinho na panela? Hoje elas querem saber de conta no banco, cartões de crédito, viagens internacionais, cabeleireiro de nome, esteticistas famosos e lindos personal treiners. E se algum don ratão se deixar seduzir será sempre um ato consciente, com trocas justas, papel assinado no cartório e antes de se debruçar na panela vai cuidar das cordas e praticar bump-jumping enquanto saboreia a gostosa feiJOEada da Dona Carinha.
Traidor do movimento.
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