quarta-feira, junho 04, 2008

Back to the Viadinho's Time

Tirando uma excelente safra de heavy-metal, musicalmente os anos 80 foram um poço sem fundo de pederastia, viadagem e androgenia.
Eu era um adolescente metaleiro nesta época, tinha cabelos compridos, ouvia Iron Maiden e saía quebrando tudo na rua. Eu andava com um bando de moleques fedorentos e mal-vestidos, as pessoas ficavam assustadas quando nos cruzavam pelas ruas e as meninas não se aproximavam a um raio de menos de cinquenta metros de nós. O pior é que tínhamos absoluto orgulho da caterva asqueirosa que éramos.
Nos meados dos anos 80, porém, meu corpo começou a produzir testosterona. Essa testosterona foi se acumulando, acumulando, acumulando e finalmente chegou o dia que percebi que seria muito mais interessante desfrutar da companhia de meninas ao invés de vadiar com vândalos e espancar idosos. O problema era que para se aproximar de garotas seria necessário adotar um comportamento qua às agradassem e era aí que quase viramos todos viados um dia sem saber.
Minha metamorfose em andrógeno new wave foi difícil. Uma “noite dançante” no colégio onde eu estudava se anunciava e eu precisava aprender justamente a dançar para me aproximar das garotas. Era uma merda, eu me fechava no quarto e tentava reproduzir os passos toscos que havia visto no Som Pop da TV Cultura (isso rende outro post) num clipe do B52’s. Aliás, quando anunciavam clipes de Adam and Ants, Culture Club, Duran Duran e outras viadagens eu ficava lá, de olho, anotando mentalmente todos os detalhes dos movimentos para depois tentar reproduzi-los, sincronizar pés, mãos e cabeça trancado no meu quarto.
O “baile dançante” chegou, dancei como um paranormal, me aproximei pela primeira vez de garotas e dei meu primeiro beijo na boca em uma guria de banho tomado. Antes só rolava umas sujinhas e muito de vez em quando. Tudo foi muito mágico e eu não percebia que era muito mais honroso bater a cabeça na parede ouvindo Black Sabbath do que me vestir com um blazer preto de mangas dobradas, ostentar uma ridícula franja descolorida com oxigenada só para tentar parecer com o Simon Le Bon. Uma vergonha lastimável.

O ápice da minha viadagem foi ir a um show do Metrô (quem nasceu depois dos 80 favor abster-se) e ficar cantando junto com a banda toda aquela viadagem de “Sândalo de Dandi” ou “Ti-Ti-Ti”. No final do show fui até os camarins e consegui ganhar um beijo (na bochecha, claro) da Virginie. Beijo que de tão apaixonante foi, me fez ficar três semanas sem lavar o rosto para preservar a marca de batom da penosa.
Era meu fim. Daí para dar o cu existia apenas uma fina e delicada linha verde-limão fosforecente.
Foi o Camisa de Vênus que me libertou. Eu tinha ido num show deles por causa da única canção que rolava nas rádios: “Eu não matei Joana D’Arc”. Foi arrebatador. Quando me encontrei com o verdadeiro repertório do Camisa eu percebi o erro que estava cometendo em tentar ser tão “new wave”. O punk que estava ao meu lado me deu um murro na boca e nesse momento o macho-alfa que estava adormecido em mim despertou. Primeiro soltei um urro e depois comecei a esmurrar o punk. Ele caiu no chão e todos ao redor começaram a chutá-lo. Infelizmente, na confusão eu caí no chão também e levei chutes impiedosos por todo o corpo. Quando consegui me levantar vi que minha boca sangrava copiosamente e o ódio corroeu minh’alma. Usando o corpo do punk caído como trampolim eu me atirei sobre o palco para o desespero dos seguranças que não conseguiram me impedir. Marcelo Nova pegou na minha mão e me ajudou a levantar, fiquei por alguns segundos pulando como um possuído em cima do palco e, percebendo a aproximação dos gorilas seguranças, me atirei na platéia. Tudo foi muito lindo, minha roupa estava imunda de sangue, eu estava cheio de cortes e hematomas.

Depois daquele dia eu comprei uma guitarra e aprendi a tocar o repertório do Camisa e de outros revoltados da época (Plebe Rude, Replicantes, 365, etc). Aprendi também que as garotas adoram homens que empunham uma guitarra e graças a isso eu arrumei minha primeira namorada (que por sinal é uma grande amiga e leitora desse blog). Minha primeira namorada se foi e eu arrumei outra. Depois outra e depois outras.
Já velho e cansado eu comprei um baixo e não comi mais ninguém. Não que eu não quisesse mas é que as mulheres não dão para baixistas. Ninguém sabe direito para que serve o baixo em uma banda e diante desta dúvida o melhor a fazer é não dar para um baixista. Sob nenhuma circunstância.



" E bota pra fudê, mano..."

13 Comments:

At 9:18 PM, Anonymous Anônimo said...

Joe, gosto muito do seu blog e tomei a liberdade de adicioná-lo aos meus recomendados no Blog que inaugurei hj.
Visite: www.tenhoconsciencia.blogger.com.br

 
At 10:06 AM, Blogger Joe Bass said...

Puxa, obrigado pela indicação! Vou visitá-lo com frequência afinal, onde se mete a boca na Banânia e nos bananeiros eu estou dentro.
Abraços

 
At 12:53 PM, Blogger Guilherme Aguiar said...

VENDE-SE RÉGUA T

100 cm, madeira com bordas de acrílico - cabeçote fixo. COM CAPA!

Se você é baixista e está cansado do estereótipo de gladiador metaleiro que não come ninguém, troque seu contra-baixo por uma régua T agora mesmo! Isso fará com que as mulheres pensem que você não come ninguém por que não quer. E fará com que elas voltem a se aproximar de você, ainda que apenas para apresentar aquele 'amiguinho' que, segundo ela, também é decorador...

Aceito trocas...

 
At 2:59 PM, Anonymous Anônimo said...

Chequei ao ápice quando fui ao show do Sique Sique Sputnik no Gigantinho.
Coincidentemente foi o Camisa de Vênus que me salvou também Joe, no mesmo Gigantinho, pouco tempo depois. E também foi a primeira vez que cheirei loló.

 
At 7:54 PM, Blogger The BLACK JACK ® Rock'n'Roll Band said...

Billy Idol é o cara! O "último punk" mostra que ainda tem veneno e vive como se ainda estivesse nos 80's! É paulada e sem frescura!

 
At 8:31 PM, Anonymous Anônimo said...

Me lembrei do Legião Urbana e sempre gostei de música que falasse de revolução...mas isso dá outro capítulo. Estou adorando essa tua fase brega/dark in the nigth...beijos...obrigada meu querido

 
At 10:24 PM, Blogger Joe Bass said...

O Billy Idol me lembra o Supla que me lembra a Martaxa que me lembra o pt que me faz ter convulsões e vomitar verde no exorcista.
Má lembrança, bro. Espero que o Billy se foda.

 
At 5:10 AM, Anonymous Anônimo said...

Calma Bass, reza a lenda que o Billy Idol desapareceu na queda de um helicóptero, igual aconteceu com o Ulisses. Ele nunca mais foi visto em nenhum dos continentes.Dizem que foi um clone que, em 2005, gravou o Devil's Playground. Billy era muito bom! Esqueça o Supla, coloque Dancing with Myself no seu radinho e saia dançando Lovain la Neuve.

 
At 5:40 AM, Anonymous Anônimo said...

Amigão...nada disso...o que te salvou mesmo foi o grande hit " O Sol nasceu pra todos" do grande e inesquecível Orestes Quércia(na verdade ele só foi a mola dinâmica que transformou este singelo single em hit), o qual foi cantado por inúmeras e intermináveis vezes, em coro e murros de seus inseparáveis companheiros, nas mesas vermelhas da Kaiser seu aniversário nos idos de 86...
Abraço pra você,
Renato "The chinchila's hammer" Sacoman

 
At 5:49 PM, Blogger The BLACK JACK ® Rock'n'Roll Band said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 5:51 PM, Blogger The BLACK JACK ® Rock'n'Roll Band said...

Billy Idol foi imortalizado até em convite de formatura. Não profane o sagrado nome de um dos inspiradores do surgimento do Maior Power Trio de Três do Mundo! Foi tocando Billy Idol que a dupla Whisky'n'Joe pela primeira vez revelou seu talento à humanidade em 1992. Amém! Kisses...and Justice for All

 
At 9:51 PM, Anonymous Anônimo said...

Joey, eu não sabia dessa face enviadada! A vantagem de ser mulher é poder ouvir essas porcarias sem medo de ser feliz - ou de virar outra coisa...
Anos 80 - é ruim, mas é bom heheheh
Beijão!!
Karina (a.k.a, Catarina, a Grande Gótica)

 
At 9:44 PM, Blogger Katchatcha said...

Billy Idol é a conexão entre todos os leitores desse blog. Me lembro que a sua primeira namorada, que já comentou aqui neste post (nossa cultuada e respeitada Chispita), me deu um disco do Billy Idol quando eu fiz 14 anos. Na época eu estava com meu também primeiro namorado que eu vi pela primeira vez na noite que o hit "O Sol Nasceu pra Todos" ecoou incessantemente pela noite do Furazóio.

Mas pensei que você fosse contar o episódio em que a dupla Wiskey & Joe se transformou em Wayne & Garth num camarim na presença do Marcelo Nova... sobrou até pro Paulo Miklos, lembra? (essas coisas vergonhosas você não vai comentar, hein?)

 

Postar um comentário

<< Home